E porque o caminho é mais importante que o destino...
Falar na China é falar no gigante do oriente que está cada mais presente no mundo ocidental. Os poucos dias que estaria em Pequim surgiram do improviso de uma escala a caminho da Mongólia. Não fiz nenhum plano para conhecer a colossal cidade. Mas estava tranquilo porque a cidade tem tanto que ver que programação não faltaria com certeza.
Falar na China é falar no gigante do oriente que está cada mais presente no mundo ocidental. Os poucos dias que estaria em Pequim surgiram do improviso de uma escala a caminho da Mongólia. Não fiz nenhum plano para conhecer a colossal cidade. Mas estava tranquilo porque a cidade tem tanto que ver que programação não faltaria com certeza.
Há algum tempo que vivia uma
experiência tão intensa como esta. ‘’Atirar-me’’ sozinho no desconhecido, no
incerto, sem referências, mas talvez assim estejamos mais abertos ao exterior,
às interacções com o que nos rodeia. Não senti receio, aliás, sentia uma
intensa ansiedade para ir à descoberta.
Dia 1 - Templos & Complexo Olimpico
Assim que cheguei ao aeroporto de
Pequim comecei a absorver a informação. Depois de passar todos os controlos, de
esperar pelas malas e pela bicicleta e de cambiar dinheiro, estava pronto a
apanhar o táxi rumo ao centro da cidade. Cheguei e o dia estava a nascer, o sol
batia nos envidraçados do aeroporto, era uma enorme bola vermelha que cegava a
vista. O aeroporto de Pequim é muito amplo, com uma arquitectura moderna. Aqui
comecei a perceber que tudo na China é longe e caminhar muito é normal.
Assim que saí do aeroporto um
taxista ‘’caiu’’ em cima de mim e não mais me largou. Fui quase obrigado
aceitar a ir para o centro da cidade com ele. Apenas dizia algumas palavras em
inglês, mas a gente lá se entendeu.
O modesto hostel era próximo do
centro, numa ruela bem característica que estava habituado apenas a ver nos filmes.
Assim que cheguei, montei a bicicleta e fui à descoberta, mesmo com o jet-lag e
cansado da viagem. Era suicídio ir para a cidade sem nenhuma ajuda, por isso
fui um track para ir onde queria. Isto
apenas me orientava pelo azimute, não tinha ruas, apenas uma indicação da
direcção.
O primeiro destino foi a Cidade
Proibida. Até conseguir entender onde se tirava o bilhete dei voltas e
voltas…Estava renitente em deixar a bicicleta encostada presa com o cadeado, mas disseram-me no posto
de informação que (quase) de certeza que ninguém iria mexer nela. Bom, não
tinha outra opção.
A Cidade Proibida é um local com
muito significado para os Chineses e que foi o palácio imperial da China desde
a Dinastia Ming até ao fim da Dinastia Qing. Durante cinco seculos serviu de
residência ao imperador, sendo o centro cerimonial e politico do governo
Chinês. O nome deriva do facto somente o imperador, sua família e empregados
especiais terem permissão para entrar no conjunto de prédios do palácio.
Trata-se de uma cidade dentro de outra cidade. Foi a sede de um governo que
comandou o império mais populoso da terra , sendo o maior palácio do planeta
com 720 000 metros quadrados. É
considerado pela UNESCO como património da humanidade.
Era impressionante a quantidade
de povo que visitava a CP. Munidos de máquinas fotográficas de ultima geração e
smart phones, tudo era fotografado. Todo o ponto servia para fazer pose para
a foto. O local era de facto bonito e sentia-se a energia do espaço, mas com o
mar de gente e do ruído, depressa comecei a ‘’sufocar’’. Mas calma, para
atravessar a CP é preciso caminhar e caminhar e caminhar, são várias praças,
vários templos, várias coisas para ver pelo caminho. Estava céu limpo e um calor abrasador, mais
de 4 graus e as sombras dos templos eram muito bem aproveitadas.
A Praça da Paz Celestial, mais
conhecida por Praça Ti na men era o destino que se seguia. Esta praça é
terceira maior do mundo com estas características, vigiada atentamente por
militares, com armamento pronto em pontos estratégicos e com um enorme mastro
com a bandeira da Republica Democrática da China ao centro. Para os chineses
este é o coração simbólico do país. Para mim esta praça é conhecida pelo vi
na televisão, a repressão durante uma manifestação de estudantes
em 1989 que chocou o mundo. Estar ali e observar o local onde tudo aconteceu provoca arrepios.
Aqui as avenidas tem por vezes 6 faxas de rodagem, toda a gente buzina , os
semáforos são respeitados de vez enquanto e percebi que o que vale é a lei do
mais forte. Viaturas grandes tem prioridade, as bicicletas tem se sujeitar. Mas
há sempre faxa para bicicleta, apesar de ser necessário ter muito cuidado
porque podem andar motas também com a agravante de não se ouvir a aproximar
porque são eléctricas. Acho que 99% das motas que vi eram eléctricas. Motas não
sei se será mesmo esse o nome, tem uma espécie de pedais, mas com a posição que
se vai sentado, duvido que alguém use sequer.
Depois segui para o Templo do
Céu. Quando cheguei à entrada do Templo do Céu fiquei hesitante se entrava ou
se não. Depois da CP não queria morrer ‘’sufocado’’ no meio de tanta gente.
Enquanto decidia entrar ou não, saboreei uma deliciosa fatia de melão junto à
entrada do templo. É normal encontrar fatias de melão com um pau (tipo gelado)
à venda.
Decidi entrar e em boa hora o
fiz. Os jardins deste templo são magníficos, tendo até musica ambiente chinesa
de fundo para tornar o espaço ainda mais idílico. Cuidadosamente conservados, os jardins transmitem uma paz e tranquilidade impressionante. A atracção principal é o
templo circular que era utilizado pelo imperador para orar às boas colheitas. É
considerado um dos templos mais belos da China.
Além deste templo existem muitos
outros espalhados pelo interior dos jardins. Na bastidão dos jardins é ainda
possível observar a prática da arte marcial Tai chi Chuan e outras danças
tradicionais chinesas. Creio que só neste tempo devo ter feito 3km a pé!
Segui em direcção ao complexo
Olímpico. Teria de atravessar a cidade, cerca de 15km pelas movimentadas
avenidas e ruas de Pequim. Apesar do transito, das buzinas, da poluição, estava
adorar andar de um lado para o outro numa cidade tão diferente e frenética como
esta.
Ver as estruturas na televisão é
uma coisa, ver ao vivo é outra totalmente diferente. O estádio Ninho de Pássaro
que serviu de palco nos Jogos Olímpicos de 2008 é realmente impressionante. A
arquitectura e a construção surpreendem ficando bem assente que a China é um
país virado para o futuro.
Gostava de ter investido mais
tempo no complexo olímpico de entrar nas infra-estruturas, mas a sol estava a
pôr-se e queria ir para outro Palácio noutra ponta da cidade.
O Palácio de Verão, o lago e os
seus jardins são monumentais. Dominado pelo Colina da Longevidade com os seus
60metros de altura, toda a envolvente merece uma visita pausada e se possível
apreciar o por do Sol junto ao lago. Tive a sorte de chegar no exacto momento
do pôr do sol, simplesmente mágico!
Depois era tempo de regressar ao
hotel, já de noite. Confesso que estava algo receoso, de pedalar no meio do
trânsito, seguindo o azimute do hotel. Depressa me acostumei ao serpentear pelo
meio dos carros, das motas, dos triciclos e tudo o que circula na estrada.
Sabia que não iria ser o único a circular sem luzes, aliás, a maior parte circula
sem luzes!
Hesitei se parava ao não no Mac
para jantar, mas não resisti à tentação de comer algo. Já era tarde e estava
cansado para andar à procura de comida. Soube pela vida!
Cheguei ao hotel com 75km a
pedalar e muitos kms a pé certamente. Estava exausto, adormeci vestido em cima
da cama e em cima das tralhas que tirei da mala…
Dia 2 - Grande Muralha
Visitar Pequim e não ir à Grande
Muralha é como ir a Roma e não ver o Papa. (Eu já fui a Roma e não o vi, mas é
isto que se diz). Então o plano para o segundo dia era ir à Grande Muralha, mas
claro que tinha de haver aventura pelo meio. Novamente recorrendo ao GPS,
fiz um track para me orientar até lá e fui. Sair duma cidade assim com esta
dimensão é louco, mas sair a pedalar é insano! Felizmente que os Chineses já
estão um passo à frente de Portugal e tem faxas para bicicleta, mas mesmo assim
o trânsito engole-te e tens de ir com todo o cuidado. A faxa das bicicletas é
muitas das vezes utilizada para ultrapassagem (pela esquerda e direita), para paragem de
autocarros, para estacionamento…tens de ir sempre atento.
Por vezes a orientação do GPS
falha, quer dizer, eu é que não a interpreto bem e dei por mim a pedalar em
aldeias e até mesmo em trilhos, mas nada de grave, estava a seguir o azimute.
Assim que vi a Muralha ao longe
soltou-se um grande sorriso. Fiquei especado a ver o serpentear ao longo das
montanhas, independentemente da inclinação, a muralha seguia o seu caminho. À
medida que me aproximava, mais impressionado ficava. É impossível ficar
indiferente a uma construção desta natureza. A Grande Muralha consiste na
junção de várias muralhas construídas durante as diversas dinastias ao longo de
dois milénios. A construção começou em 220 A.C. e apenas terminou no seculo XV!
É considerada uma das setes maravilhas do mundo pela UNESCO.
Segundo a informação que
encontrei, a Muralha em Badaling era a que estava melhor conservada, mas também
era a que estava mais longe. Para lá
chegar tive de subir uma montanha de 15km depois de me cruzar a primeira vez com a
Muralha, o que até foi bom para treinar.
Para entrar nos monumentos na
China é necessário pagar para entrar e a Muralha não é excepção. Mas tendo em
conta que me pediam 300RMB no centro de Pequim para me levarem à Muralha,
gastei 45RMB e fiz um óptimo treino.
Cheguei lá com 66km. Entrei, caminhei e pude apreciar kms e kms de
muralha que se estendiam pelas montanhas. A inclinação em certas partes chega a
ser assustadora. As pessoas agarram-se aos corrimões para não escorregar a
descer e a subir os menos preparados tem que fazer pausas para recuperar.
Quando saí da Muralha, o sol já
estava a baixar. No caminho para Pequim tinha um desvio para ir ao Reservatório
dos Túmulos Ming, estava quase a anoitecer e voltou novamente a indecisão sobre
pedalar de noite ou não. Fiz contas, se fosse directo iria pedalar de noite na
mesma, portanto siga para os Túmulos Ming. A recompensa foi pedalar no circuito
olímpico da prova de ciclismo de estrada de 2008, conhecer uns americanos que
me ofereceram casa em Boston, conhecer uma loja de Fixies e já agora, vi os
túmulos, mas ao longe porque aquela hora já estavam fechados para visitas. Nada
acontece por acaso…
Cheguei a Pequim novamente
exausto, com 160km nas pernas e de novo com uma paragem no Mac para repor
energia. Estava feliz por ter sobrevivido ileso ao trânsito dentro e fora de
Pequim.
Ainda com sintomas do Jet Lag,
estive horas e horas na cama às voltas. O governo da China bloqueia o Face Book
e Blogger, assim ficou mais difícil passar o tempo.
Dia 3 - Natooke, Silk Market, Torre CCTV, Comidas
O último dia em Pequim o programa era mais
pacato, queria visitar a loja de Fixies Natooke onde ‘’nascem’’ as populares
Flying Banana, queria ir ao Silk Market e terminar o dia a ver opera. Consegui
fazer as duas primeiras, a ultima não, mas arranjei um substituto à altura. Sair
da cama foi ainda complicado, estava ainda sobre os efeitos do Jet Lag e quando
dei por ela já a manhã tinha passado…
Lá fui eu seguindo o azimute do
GPS em busca da loja. O track acabou e nem sinal da loja…tive de ir lá pelo
‘’faro’’, mas acabei por a encontrar.
Depois queria ir a um shopping ver se
encontrava uma artigo que me poderia fazer falta. Coloquei esse ponto no GPS,
andei 2h às voltas à procura, pedi informações, mas não consegui encontrar. Foi
a única vez que não encontrei o que procurava, mas também era um Shopping…em
vez disso encontrei a sede da CCTV que é um edifício reconhecido internacionalmente
pela sua arquitectura arrojada.
Segui para o Silk Market, algo
que pensava que era um mercado tradicional com lojinhas, mas em vez disso era
um shopping com tudo e mais alguma coisa para vender. Tanto é que estava à
porta do mercado, e perguntei onde era a entrada porque não achava que fosse
aquilo. Desde roupa, a electrónica, a relógios, souvenirs, tudo se vende ali.
Mas encontrar coisas autenticas das marcas é outra conversa, é tudo tão barato
que se desconfia da genuinidade. Calma, barato se se negociar com o Chinês, as
coisas começam por um preço muitas das vezes 10 vezes superior aquilo que
depois se consegue comprar. Aproveitei que aqui estava e fiz as compras da
‘’praxe’’ de viagem (souvenirs).
Bom, como disse queria ir ver
Opera, sim Opera. Opera de Pequim é muito conceituada internacionalmente, com
vários estilos e que combina artes marciais com teatro. Estava curioso em
assistir a um espectáculo, mas não consegui encontrar o Teatro. Enquanto andava
à procura dele, encontrei um mercado na rua onde estavam a ser vendidos
diversas especialidades chinesas e por ali fiquei a saborear diversos tipos de
espetadas de carne e peixe grelhados. Nessas especialidades estão incluídas,
camarão, lulas, aranha, cobra, minhoca, estrela do mar e outras coisas que não
sabia o nome. Experimentei um pouco de tudo, menos escorpião e baratas porque
já estava ‘’satisfeito’’.
Voltei para o Hostel para arrumar
a mala porque no dia seguinte o voo saía às 8.35h, por isso teria de acordar às
4.30h para tomar o pequeno-almoço, fazer a viagem para o aeroporto e estar a
horas no check-in.
Acordei e estava a chover
intensamente, a primeira vez desde que estava em Pequim, ainda bem que assim
foi. Isto complicou a logística de colocar as malas no táxi, teve haver muita
ginástica para conseguir colocar toda a tralha dentro. Tive de desmontar tudo e
separar em várias malas para conseguir transportar tudo naquele táxi.
Felizmente que deu tudo certo.
No aeroporto voltei a montar tudo
nas caixas e malas e dirigi-me ao Check-In. Aqui começou a epopeia dos
controlos e da caminhada até à porta de embarque. Apesar de ter chegado com
mais de 2h de antecedência, cheguei à porta a faltar 10min para fechar.
Quando o avião se fazia à pista
para levantar voo, parou e ficou ali durante mais de 45min parado. Eu já tinha
adormecido, acordei com as pessoas a levantarem-se para sair, por momentos pensei que já tinha chegado à Mongólia...Nunca me tinha
acontecido tal. Pelos vistos era o mau tempo em Ulannbattar que impedia que o
avião levantasse. Saímos e aguardamos nova hora para partir, primeiro fixou-se
às 13.00h, depois passou para as 19.00h. Um seca e tempo perdido no aeroporto,
mas felizmente levantamos voo às 19h, quase 12h depois da hora prevista, rumo à
capital da Mongólia.
Foram 3 intensos dias aproveitados ao máximo, onde
tive a oportunidade de conhecer uma cidade repleta de exotismo, com muito para
ver, sentir e provar. O tempo foi escasso para a oferta que existe, mas saio
com uma visão mais clara da China e dos Chineses. Certamente que será um choque passar de um dos países
mais povoados do mundo, para um dos menos povoados, mas a aventura continua e
novas experiências me esperam.
O mundo pela óptica da bike é totalmente diferente. Essa aranha devia ta uma delicia. KKKKKK
ResponderEliminarAranhas, fónix..... É preciso coragem
ResponderEliminarn3i75y1l21 e4b42q6w10 u4l18x7l03 b3b70c5e14 w4m60b2a53 n1i09z6t70
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