sexta-feira, junho 24, 2011

Transportugal 2007, 2008 & 2009

Transportugal 2007

 
A  transportugal foi a única prova por etapas que repeti...foram logo 3 vezes consecutivas. A primeira em 2007 foi talvez a mais ''pura'' pois a prova ainda não tinha o mediatismo que tem hoje e da minha parte foi encarada de uma maneira bem mais descontraída. 



A bicicleta que utilizei não foi de longe a ideal, a suplementação que (não) levei, a preparação que (não) tive, a (não) experiência com GPS's...uma serie de pontos que facilitei e que ditaram o resultado final. 




No entanto o 2º lugar na prova foi para mim um bom resultado e sem duvida um tónico para voltar no ano seguinte mais forte e melhor preparado. 



 No final da prova todos convivemos no Bar Dromedário em Sagres até altas horas da madrugada. Quando digo todos, digo atletas e staff, sem restrições!




Estava ainda de férias académicas e deu para um pequeno estagio em Bragança com amigos antes da prova começar e depois deu ainda para voltar a pedalar de Sagres até casa...que tempos!! 



Transportugal 2008

Yes I’m a Epic Rider

Muitas das vezes viajamos para longe, para outros países, outros continentes e esquecemo-nos do nosso país, da nossa historia, da nossa riqueza natural e de aquilo que todos gostamos…dos nossos trilhos!!!
De Bragança a Sagres pelo ‘’Portugal das traseiras’’ a Transportugal Garmin durante 8 etapas e mais de 1000km proporciona aos atletas uma duríssima competição pelos trilhos mais espectaculares de Portugal.

Peguei na pergunta do artigo do meu amigo Nuno Machado sobre o Cape Epic da edição de Junho da Bike Magazine para iniciar o relato na primeira pessoa da Transportugal.

Desde 2006 que me iniciei neste tipo de provas por etapas, visitei novos continentes, conheci novas culturas e fiz amigos dos 4 cantos do mundo. A experiência é enriquecedora não só como pessoa mas também como atleta dando-me oportunidade de competir com campeões olímpicos e mundiais do passado e do presente, assim como atletas normais como eu que vivem o BTT intensamente. 
Sobre a Tranportugal

A Transportugal pode ser considerada como apenas mais uma prova por etapas, comparada a outras existentes e com bastante mais divulgações como são Cape Epic, Transalp, Transrockies. António Malvar um dos ‘’pioneiros’’ do BTT nacional idealizou que esta prova seria diferente de todas as outras. O limite de inscrições em 50 atletas permite uma maior proximidade entre eles e a organização. Não existe tendas, não existe WC’s para centenas de pessoas, não é preciso acordar de madrugada e esperar pelo pequeno-almoço, aqui o conforto é privilegiado ajudando desta forma a ultrapassar etapas. 


A navegação por GPS evita marcações, tudo continua igual antes e depois dos atletas passarem. A ausência de abastecimentos, de zonas técnicas de assistência torna a Transportugal uniforme para todos. Os atletas estão entregues a si mesmo, sendo a ajuda externa (excepto moral) penalizada.
A partida é fraccionada segundo o sistema de handicap conforme a sua idade e sexo, não existem assim categorias.


A minha versão dos factos..

Quando em 2007 arranquei de Bragança com uma suspensão total sem sequer uma grade de bidon, um camelback a pesar mais de 5kg e sem nunca ter utilizado um GPS podia-se dizer que não era o melhor presságio. Mesmo sendo caloiro terminei em segundo mas com quase 2h de diferença para o vencedor.


Em 2008 foi diferente, aprendi com os erros do ano passado e como se diz ‘’o que não nos mata torna-nos mais fortes’’ e este ano abordei a prova de forma bem diferente. A experiência ganha no Transalp e no Cape Epic juntamente com o Zé ajudou e muito na prestação deste ano. A preparação feita pelo nosso treinador, Tiago Aragão, estava direccionada para esta semana. Tanto eu como o Zé estávamos na nossa melhor forma e iríamos lutar pela vitória.


1ª Etapa: Bragança – Freixo de Espada à Cinta – 139km, 3878m

Durante os dias que antecederam o início da Transportugal choveu bastante, o fazia prever uma etapa com muita lama, com um terreno pesado agravando ainda mais a dificuldade da etapa. Sendo esta a etapa mais dura da travessia como fez questão de frisar o organizador, que aconselhou a ‘’ter cabeça’’ pois os excessos cometidos nesta etapa poderiam comprometer o resto da prova. 

As minhas principais referencias eram os dois atletas Belgas, Peter Paelink ‘’Pepe’’ e Dominiek Sacré que terminaram em 1º e 3º respectivamente em 2007 e o Ricardo Melo que faz o pleno na Transportugal e fez 4º no ano passado. Todos estes atletas partiam entre 3 a 6 minutos primeiro que eu e o Zé, isto conforme as etapas. A táctica foi sempre arrancar a fundo e apanha-los o mais rápido possível, nesta 1ª etapa acabou por acontecer ao fim de 15km em pleno parque natural de Montesinho. A vegetação estava luxuriante devido ás chuvas dos últimos dias tornavam os trilhos um mimo para os atletas e fazia esquecer em parte a dureza do percurso. Verifiquei que tanto esta como as restante etapas tinham pequenas alterações para melhor em relação ao percurso do ano passado. 

Durante os primeiros 80kms o meu GPS não funcionou, não dava as indicações correctas o que me obrigou a pedalar sempre atrás do Zé. Só resolvi este problema com a ajuda do organizador que num dos cruzamentos com uma estrada municipal lhe entreguei o GPS para corrigir o problema. Quando acontece um problema num GPS (excepto falta de pilhas) a ajuda é possível por parte da organização sem qualquer penalização. 


Pedalar solitário é uma característica desta prova onde por vezes pedalamos horas e horas sem sozinhos, que o diga a americana Kim Bear ou a Sul Africana Estie du Plessir ou a simpática Sandra Correia que partiam muito cedo. Quando os atletas mais rápidos as alcançavam e trocavam curtas umas palavras era um momento de alegria soltando um sorriso contagiante.

A recuperação é parte fulcral para uma prova desde género fundamental, e começa mesmo durante as etapas com uma correcta alimentação e hidratação. Utilizar sais nos bidons e camelback e barras energéticas durante a prova é imperativo. Tivemos a oportunidade de usar sais e barras Vitargo que revelaram ser um excelente produto.


Como não existem abastecimentos é preciso um controlar a quantidade de líquidos que temos nos bidons e camelback e nesta mesma etapa no ano passado fiquei sem líquidos numa parte onde não havia qualquer forma de me abastecer e acabei por beber agua de uma ribeira já em desespero. Este ano não facilitei, tanto eu como o Zé quando havia uma fonte ou uma torneira aproveitávamos e enchíamos os bidons imediatamente sem nos preocuparmos com o tempo que perdíamos pois podia significar a curto prazo uma quebra por desidratação. 



Nos últimos kms desta etapa era possível contemplar o Douro Internacional e as arrepiantes escarpas sobre o rio. Ao fim de quase 7h a pedalar cortamos a meta juntos em Freixo de Espada a Sinta. Pouco tempo depois chegaram o Ricardo Melo e um ilustre desconhecido, Renato Hernandez que até bem pouco tempo praticava remo.
Depois de um ano a pensar na Jersey amarela consegui finalmente vesti-la!!!

2ª Etapa: Freixo de Espada à Cinta – Alfaiates – 115km, 2351m

Esta etapa é considerada como a mais espectacular de todas. A viagem pela região montanhosa e acidentada do Parque Natural do Douro Internacional rumo à meseta ibérica da Beira Alta, passando por Barca de Alva, Figueira de Castelo Rodrigo e pela vila medieval de Alfaiates tornam esta etapa única. A calçada de Alpajares, na parte inicial da etapa, é talvez a zona mais espectacular e perigosa de toda a prova. O singletrack feito a descer com constantes drops de pedra e curvas de 180º num caminho secular e bastante degradado tornam este troço simplesmente estonteante. 


Muitos atletas optam por descer desmontado pois uma queda nesta zona pode causar a morte uma vez que o lado externo do caminho é uma falésia com vários metros de altura. Na subida com 20kms de extensão entre Barca de Alva a Figueira de Castelo Rodrigo onde as inclinações chegam a ultrapassar os 20% de inclinação feita na companhia do Zé e do Pepe e nenhum de nós parecia ceder. A curta vantagem que ganhamos desapareceu quando começamos a descer depois de Castelo Rodrigo mas como os últimos 70km seriam praticamente planos (este ano com a benesse de o vento não estar contra) optamos por gerir e esperamos pelo ataque do Pepe que viria a impor um ritmo fortíssimo. Na passagem em Almeida encontramos o que mais parecia um Bike Park medieval. Contornamos a parte exterior do fosso da muralha em estrela em singletrack com constantes saltos e curvas. 


O meu companheiro Zé não aguentou o ritmo e optou por abrandar um pouco nos kms finais consciente das etapas seguintes. Esta opção teve duas consequências, uma foi quando seguia sozinho e ficou sem pilhas no GPS teve obrigatoriamente de as trocar pois não tinha outra forma de se orientar, outra foi a perda do segundo lugar para o Pepe que beneficiou destes segundos perdidos pelo Zé. Cortei a meta em Alfaiates com mesmo tempo que atleta Belga, e com 7minutos de vantagem para o Zé.



3ª Etapa: Alfaiates – Ladoeiro – 112km, 2712m

Tinha boas recordações desta etapa, em 2007 que vencia e isto dava-me confiança na hora da partida. Sabia que a etapa era duríssima com muitas subidas e descidas extremamente técnicas onde as partes a rolar eram reduzidas, enquadrava-se mesmo com o meu estilo.
A passagem por umas das zonas mais isoladas do país, a Serra da Malcata conhecida por ser o último reduto do lince ibérico, onde os únicos vestígios de civilização eram os corta fogos por onde passávamos ora a descer ora a subir.
O intenso cheiro a camomila assim como as vistas sobre as planícies espanholas dá um misticismo particular a esta serra. Foi nesta zona que alcancei o Pepe e logo de seguida coloquei-me em fuga, sabia que era aqui que tinha que ganhar tempo e jogar os meus trunfos. Quando passava por um dos atletas com maior handicap, o Holandês Leon Vem Den Shoor que havia encontrado no Cape Epic, diz-me ’’always hunting the old men’’ e logo de seguida ‘’Pepe is hunting you, so runway’’ e carreguei ainda com mais força os pedais em direcção a Monsanto. Pelo meio ainda tivemos de fazer a famosa subida do Ramilo, famosa porque é terrivelmente dura, terrivelmente inclinada, sem qualquer sombra e com a temperatura acima dos 30º e o suor caía impiedosamente no quadro. 


Seguiu-se a subida da calçada romana à singular aldeia de Monsanto, um dos ex-líbris da cultura Portuguesa. A descida era feita também em calçada romana com muitas pedras escondidas o que viria a revelar-se fatal para o Luís Picado que caiu e fracturou o fémur numa pedra pontiaguda já perto do final da descida que o obrigou a abandonar a prova. Depois de umas centenas de metros feitos em estradas voltamos a entrar num dos singletracks mais divertidos desta prova que nos leva até ás ruínas romanas de Idanha-a-Velha. A tendência de descida convidava a velocidades elevadas mas era preciso ter muito cuidado pois a vegetação escondia os vários perigos. 


Quando cheguei ao Ladoeiro já me encontrava sem líquidos e senti que se tivesse de pedalar mais iria quebrar mesmo assim consegui um avanço de 10minutos de avanço para o Zé, que recuperou novamente o 2º posto, e 19min para o Pepe e assim acumular uma vantagem de 25minutos para este. Numa prova por etapas uma vantagem desta ordem não significa nada pois no ano passado só numa etapa perdi mais de 1h30 com varias avarias. Nathan Deibert foi o 4º classificado e começou a preocupar a dupla Renato Hernandez\ Ricardo Melo que viriam a terminar pela 3ª vez consecutiva com o mesmo tempo.


O mecânico da prova, José Carlos, teve um trabalho árduo pois aconteceram avarias de varias ordens, desde quadros e mudanças partidas provocada pela dureza do percurso onde a muita pedra ditou a lei. O mais grave foi o atleta Ross Lovell que conseguiu partir uma Lefty em duas. Só pode continuar a prova porque um membro da organização lhe emprestou a sua bicicleta.

4ª Etapa:  Ladoeiro – Castelo de Vide – 106km, 2337m

A primeira parte quase plana com ligeira tendência para descer fez com que os primeiros 40kms fossem ‘’despachados’’ em pouco mais de 1h. O trabalho de equipa foi indispensável entre 4 elementos, eu o Zé, o Renato Hernandez e o Marco Almeida para reduzir ao máximo o tempo de vantagem dos dois atletas Belgas que partiram com 3minutos de vantagem. Pouco antes de atravessarmos o Tejo em Vila Velha do Ródão onde, ‘’as portas do Tejos’’ eram o pano de fundo, o grupo seguia pacífico, sem ataques. Aproveitamos para trocar umas palavras sobre o aumento dos combustíveis quando passamos por uma bomba de gasolina. 


A subida para a povoação para Salvessa acabou com a ‘’paz’’ e começaram as hostilidades, tanto eu como o Zé atacamos para fugir ao Pepe e o Ricardo Melo. Nesta fase, o terreno muda abruptamente, começamos a pedalar sobre um piso granítico, muito duro para as costas. Sem viva alma sem qualquer ruído excepto dos pássaros, sem mais nada que nos perturbe e apenas focados nos GPS, ultrapassávamos as primeiras planícies alentejanas com uma estranha satisfação. Chegamos a Castelo de Vide com uma vantagem de 10min para os nossos adversários directos. Tivemos uma grande preocupação com o descanso pois a etapa seguinte seriam 160km e mais de 3000m de acumulado para vencer.
5ª Etapa: Castelo de Vide – Monsaraz – 160km, 3048m

A etapa mais longa de todas está reserva para a última metade da travessia quando faltando 530km para Sagres.
No briefing na noite anterior foi lembrado que o nosso maior amigo neste dia seria o Halibut pois a maioria dos atletas iriam passar mais de 8h em cima do selim.
A parte inicial semelhante à parte final da última etapa em calçada medieval a subir, seguindo-se uma descida também esta feita em calçada medieval que nos faz vibrar todo o corpo. Para terminar, a principal dificuldade do dia foi uma subida em calçada romana antes de entrarmos em Parque Natural de S. Mamede. Fomos recebidos com um trilho que atravessa um bosque fechado onde a temperatura diminui acentuadamente antes de descermos para a povoação de Alegrete onde parte do trilho coincidia com a Maratona de Portalegre.


Numa etapa com estas características andar sozinho é a pior opção que podemos fazer. A solidão desgasta e não nos podemos defender do vento quando toca a rolar. O grupo onde seguia faziam parte mais 5 elementos, o Zé, os dois Belgas, o Ricardo Melo e o Nathan manteu-se coeso até aos bem perto do final onde todos trabalharam. Neste dia reparamos numa bicicleta encostada a um sobreiro e estranhamos tal situação. Quando nos aproximamos estava sentado à sombra do sobreiro o Bruno Barcelos que participava na Transportugal visando angariar fundos para uma associação de caridade ‘’acreditar’’ que trabalha com crianças com cancro. Quantos mais kms ele fizesse mais dinheiro recebia para a causa. Não tinha qualquer ambição competitiva, lutava todos os dias para completar as etapas saindo sempre mais cedo e sendo sempre o ultimo a chegar com enorme sorriso apesar de todo o sofrimento. O seu exemplo foi uma lição de grande lição para todos, eu incluído, parabéns Bruno!!


Esta etapa é considerada as etapas dos portões, para entrar ou sair das propriedades era preciso abrir\fechar um portão, muitos deles tinham mecanismos de fecho que nos obrigavam a pensar como se iria processar esta acção. A regra era deixar o portão como o encontrássemos, se tivesse aberto continuava aberto se tivesse fechado teríamos obrigatoriamente de o fechar pois se não o fizéssemos o gado poderia fugir e a penalização seria a exclusão da prova. Quando chegamos à albufeira da Barragem do Alqueva, que é considerada o maior lago artificial da Europa, decidi tentar a minha sorte e ganhar algum tempo. 


Faltavam cerca de 20km para a meta e com a experiencia ganha no ano passado sabia que era agora ou nunca. Este ataque resultou pois ganhei mais uns minutos ao Pepe na chegada a Reguengos de Monsaraz. Uma característica transversal a esta a prova são as chegadas sempre aos locais altos das redondezas, fossem castelos, muralhas ou hotéis eram sempre lá no alto tornando os últimos metros muitas das vezes a parte mais difícil da etapa.

6ª Etapa:  Monsaraz – Albernoa – 140km, 1754m

Esta etapa é a mais constante, não há subidas dignas de registo nem zonas técnicas muito complicadas, é só transmitir watts aos pedais e pedir para que passe rápido. Estávamos a atravessarmos o Alentejo, não há muitas variações de paisagem, tornando esta etapa algo monótona. A monotonia quebrou quando o meu amigo Nuno Amaral acompanhado pelo Pipa da BTT-TV apareceu no meio do nada de jipe aos gritos. Acompanhou-nos até ao final ao estilo ‘’safari africano’’ a filmar com o jipe em andamento. Não queria acreditar no que estava acontecer. Só mesmo alguém como o Nuno nos poderia fazer uma surpresa destas.
Provando as suas excelentes capacidades roladoras Pepe chegou isolado a Albernoa com cerca de 6min de vantagem sobre o grupo que seguia juntamente com o Zé o Renato e o Ricardo Melo. A média atingiu quase os impressionantes 30km\h!!! Ao fim de 6 etapas isto traduz-se numa rigorosa preparação dos atletas da frente que encaram a Transportugal como uma prova e não como um passeio. Prevejo que esta tendência será para subir e em 2009 apareçam ainda mais atletas a lutar pelos lugares da frente e a dar outro colorido à prova. Cada vez mais países estão representados, este ano foram 11, Japão incluído.

O momento triste do dia foi a desistência da atleta com o sorriso mais bonito da prova, a Sónia Lopes, que vinha a fazer uma prova espectacular. Foi vitima de uma queda provocada por um pau que se enfiou na sua roda frente e a obrigou a uma visita ao hospital. O diagnósticos não foi nada bom, partiu a clavícula no mesmo sítio do ano passado. Será certamente em 2009 que terminará a Transportugal, não desanimes Sónia.

7ª Etapa: Albernoa – Monchique – 135km, 2873m

Esta etapa marcou a entrada no Algarve mas até lá teríamos que nos desfazer da restante planície alentejana. Os trilhos estavam ‘’arder’’, a temperatura ultrapassava os 35º o que obrigou a organização excepcionalmente a fornecer água aos atletas aos 90km de prova antes de fazermos a subida mais dura da Transportugal. Subir ao alto da Portela da Brejeira significa subir 4km em pedra solta sendo a cada vez mais inclinada à medida que nos aproximamos do topo, significa também a entrada no Algarve. Foi exactamente neste ponto que nos distanciamos do Pepe e do Ricardo Melo que até nos tinham acompanhado. 

 
De seguida descemos até à Ribeira da Perna Negra, um verdadeiro ‘’buraco’’ antes de subirmos em asfalto praticamente até as Caldas de Monchique onde terminaria a etapa. Esta subida foi feita no limite das nossas capacidades, seguia junto do Zé e isso ajudou-nos a ‘’trepar’’ estes quase 10km finais de subida a médias que estavam a surpreender a nós próprios. Este esforço permitiu em apenas 20km ganhar 10minutos para o 3º classificado o Ricardo Melo que fez uma etapa irrepreensível a vários níveis. 


Os hotéis como já disse são os locais escolhidos pela organização para o descanso dos atletas. As condições são sempre boas para descansar mas ainda são melhores para quem gosta de um bom repasto. Os jantares em locais como Monchique, Albernoa, Ladoeiro ou Castelo de Vide é um prazer saborear os pratos que são nos são servidos.

8ª  Etapa: Monchique – Sagres – 93km, 1766m

Tendo em conta tudo o resto esta etapa pode ser considerada curta mas não pode ser considerada fácil mas em termos de paisagens sem dúvida que é impressionante. Era ultima etapa e o importante era ter cautela, não arriscar em demasia nas zonas técnicas pois a vantagem que tinha dava-me alguma segurança. Os lugares da frente estavam quase todos praticamente definidos, apenas a luta pelo 5º lugar ainda estava mais acesa entre o Renato Hernandez e o Nathan Deibert. Foi hilariante vê-los desferir constantes ataques quando ainda seguíamos em grupo. 

O cheiro a mar cada vez se tornava mais intenso, a brisa marítima refrescava-nos o corpo e a mente, estávamos quase em Sagres. Quase, pois ainda havia os trilhos em plena costa Vicentina, e que trilhos. Os albatrozes planavam ao nosso lado enquanto pedalávamos ao mesmo tempo que desfrutávamos das vistas sobre as falésias. 


Chegam os singletracks, nesta zona a atenção tem de ser redobrada pois os trilhos são escavados mesmo no limite das falésias, uma queda nesta zona é mortal tal como nos foi lembrado na noite anterior. Nesta primeira zona mais técnica tanto eu como o Zé ganhamos ligeira vantagem mas que viemos a acentuar nas zonas seguintes, primeiro na descida para a praia de Cordoama onde a inclinação era de 30% como na descida em singletrack para Praia do Amado. Sagres estava a 17km, 2 a subir e o restante plano. Tinha o sonho de chegar à praia da Mareta com a camisola amarela e não deixei fugir a oportunidade e dei tudo nesta fase final. Olhava constantemente para trás, pois foi nesta zona que Pepe o ano passado ultrapassou-me sem dó nem piedade, mas não vinha ninguém, nem mesmo o Zé. Sabia que ele conseguiria dar conta do recado e continuei. 
Ao fim de 8 dias e 1001 kms feitos do norte a sul do pais numa das provas mais duras da especialidade todos os participantes estavam de parabéns, terminar já é um motivo de celebração. Durante não houve casos de falta de Fair Play, todos nós jogamos limpos e sem casos duvidosos. Todo o staff também estava de parabéns, tinha-nos proporcionado uma experiencia memorável! A vontade de regressar estava bem presente, esquecendo todo o sofrimento que havíamos passado. O mergulho no oceano soube melhor que nunca, a missão estava cumprida, venha a próxima.


Texto: João Marinho Fotos: João Marinho e organização Transportugal Garmin

A dupla:
Nome: João Marinho e José Silva
Localidade: Amarante
Equipa: Team Bike Zone Scott Amarante
Inicio na competição: 2004
Competições: Ruta de los Conquistadores, Transportugal, Transalp e Cape Epic,



A bicicleta:
Scott Scale 15, Marzocchi Corsa World Cup, Transmissão SRAM, Travões Hayes Stroker , pneus Maxxis, capacetes Catlike, Suplementação, Vitargo.



Comentários: Depois de ter participado em 2007 numa suspensão total verifiquei que uma rígida é o melhor e a nossa Scale foi uma escolha acertada. Um dos problemas que a maioria das FS é a dificuldade de transportar 2 bidons e esta também foi uma questão que nos fez decidir pela rígida. A escolha dos pneus é um ponto que se deve especial atenção. Devido à variedade de trilhos convém levar um pneu polivalente como é o caso do Maxxis Crossmark 2.1 que se revelou ser o pneu ideal, não tivemos qualquer furo. O peso da bicicleta bastante influenciadora da nossa prestação, convêm como é obvio ser leve, especialmente as rodas, mas nunca comprometendo a fiabilidade.

Agradecimentos

O nosso sucesso nunca teria sido possível sem o apoio diário do nosso amigo João Aragão. As bicicletas depois dos cuidados dele ficavam novas, um verdadeiro tratamento VIP que influenciou positivamente a nossa prestação. A todos os amigos que apareceram durante e no final das etapas que nos davam uma força extra, foi arrepiante o carinho que sentimos. 


O Dr. Hélder Ferreira da Amarante Cidade Wireless, incansável a ajudar-nos. O Rodrigo Nogueira do Stand Jasma, que nos ajuda naquilo que precisamos da Scott e 661. Outras pessoas e entidades que nos ajudaram foram a Via Nova Race (www.vianovarace.com), Stand Bébé Automóveis, Clínica Dentaria Sandra Dantas na Trofa, e à BTT-TV na pessoa do Nuno Amaral ao nosso ‘’mestre’’ Tiago Aragão e ao Gilberto Lopes da Vitargo. O papel dos amigos e família é também essencial e fica aqui a nossa palavra a eles: Pedro Marinho, Francelino Fernandes, Dr Gustavo Melo, António Navega, Nuno Machado e Patrick Afonso, a todos os que nos acompanharam através do Fórum BTT nos deram uns watts extra, entre muitas outros que tornaram esta prova uma realidade para nós e para a nossa equipa Bike Zone e Associação Desportiva de Amarante.

Transportugal 2009


Em 2009  a historia conta-se depressa. Fui desclassificado por ter chegado à meta em Castelo de Vide (5º etapa) sem o GPS. O GPS saltou numa descida acidentada e decidi não voltar para atrás para o procurar. Havendo testemunhas para confirmar que fiz a etapa, pensei eu que dessa forma fosse possivel confirmar que realizei toda a etapa. As testemunhas foram outros participantes e a própria organização. Não adiantou e fui penalizado severamente, tão severa que a etapa não foi sequer contabilizada...uma decisão muito difícil de aceitar na altura!! Quase abandonei a prova...mas decidi continuar até Sagres para resfriar a cabeça no oceano. 
 
Para a historia fica a vitoria em 6 das 8 etapas e as duas restante foi chegada ao sprint. Fiz os 1000km de prova em menos de uma hora que o vencedor: Frans Claes. 
Em 2009 houve muitas alterações na prova, novas regras, novas pessoas e foi para mim o ano mais conturbado da TP. 


 


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João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict