sábado, janeiro 26, 2013

TransAndes Dia 6



Game over! Depois de 5 duros dias nas encostas da cordilheira montanhosa da América do Sul, chegou ao fim a 5º edição da TransAndes na bonita localidade de Pucon. A etapa de hoje prometia ser rápida, 32k, metade a subir em estrada e estradão e depois outra metade a descer em trilho. 

Apesar da grande maioria dos atletas estar descontraída, ainda havia algumas posições que podiam sofrer alterações devido às pequenas diferenças de tempo. Acaba quando termina, assim parti para a etapa, sempre com imponente vulcão Villarica na frente. Apesar de estar activo este vulcão, não houve sinal de erupção. As minhas pernas estavam em actividade total, mas de acido lácteo! Como custou subir e seguir na roda do grupo da frente. A minha língua já quase arrastava no chão de tanto sofrimento. Controlei as forças até ao ponto que a organização dizia que descia, supostamente aos 12km, mas isso apenas aconteceu ao km 15 onde estava instalado o único abastecimento da etapa.

Estávamos nas encostas do vulcão, a cinza e as pedras vulcânicas tornaram a descida um pouco apimentada. Assim que começou a descer passei para a frente do grupo na esperança que pudesse ganhar alguma diferença para o campeão chileno. Apesar de ter ganho alguns segundos, o trilho técnico terminou e ele voltou-se a colar na roda. Até ao final o singletrack e o estradão rápido não permitiu que eu conseguisse me afastar. Chegamos juntos ao ponto onde e organização controlava os tempos, que era um pouco afastado do centro de Pucon. A cidade densamente povoada de turistas, com muito tráfego forçou a organização a afastar a meta do centro. Todavia o arco de meta estava instalado na cidade com vista para o vulcão para que pudéssemos registar a passagem. 

Considero o Javier um justo vencedor da prova. Foi o atleta mais forte e recuperou o tempo perdido na primeira etapa justamente. Eu dei tudo o que tinha e o que não tinha para aguentar a liderança, mas não consegui. Fico feliz pelo 2º lugar e mais feliz por Portugal ocupar o 2º e o 3º lugar da classe OPEN, comigo e com o Tiago respectivamente. A Rita terminou em terceiro na classe dela e também está de parabéns. Todos os atletas que completaram a prova estão também de parabéns. É um duro mas belo desafio.  

Uma prova com algumas vedetas internacionais como os americanos Rebecca Rush, Mary mary Mcconneloug, Michael Broderick. com 26 países representados de países tão distantes como Austrália, África do Sul, Alemanha, Canadá, Itália, Nova Zelândia, Espanha, Curacao…tornou esta prova rica em novas amizades. 

Em nome da comitiva Portuguesa agradeço todo o apoio que chegou à Patagónia. Foi muito bom fazer com vocês esta dura prova.

Até à próxima amigos!  



Podem ver mais fotos na minha página de atleta no Facebook:

www.facebook.com/marinhojoao

Ride & Smile :)



sexta-feira, janeiro 25, 2013

TransAndes Dia 5



Sabia que uma diferença de 3min para o Javier tinha a liderança em risco. Como o ataque é a melhor defesa, tentei fazer a diferença no singletrack técnico que existia no início da etapa. Infelizmente este trilho passou depressa de mais e voltamos ao estradão. Ataquei,  mas ele não saía da roda. Por volta do km 25 ele atacou numa subida, ganhou uns metros e depois veio uma parte plana e não consegui recolocar-me. Impus o meu ritmo, fui no meu limite até ao final, mas o tempo que o Chileno ganhou retirou-me da liderança. 

Sobre a etapa, esta foi mais do mesmo, o que não é mau de todo. Estradão, subida, floresta, descida rápida, estradão e meta. Logo após o 1º abastecimento ao km 29 (supostamente ao km 22) veio a tão badalada subida de 3km que a organização disse que grande parte de nós iríamos fazer a pé. De facto confirmou-se, subida inclinada sem tracção fez-nos penar. De vez enquanto para apimentar aparecia uns troncos gigantes e a coisa ficava no ponto.


Tenho pena que não estejam presentes mais fotógrafos para captar o que distingue esta prova. As paisagens por vezes de cortar a respiração que dá vontade parar para contemplar. Assim foi mais uma floresta com as imponentes e centenárias araucárias  e desta vez com vista para vários vulcões. Depois veio a vertiginosa descida em double track e de resto nada de mais. Típico estradão chileno ondulante, com carros a circular normalmente exigindo a máxima atenção. Menciono a colocação do segundo abastecimento na praia do lago Caburgua que dava vontade de parar e mergulhar.

Levo sempre o mapa de altimetria colocado no quadro para gerir as forças\comida\bebida. Constantemente somos obrigados a fazer a ajustes porque o track que fazemos difere sempre do que a organização fornece. Hoje foram mais quase 5km e o final que supostamente seria a descer, apareceram umas subidas tipo rompe pernas que fizeram alguns participantes perder as estribeiras.  Cortei a meta com 10min de diferença para o para o Javier. Não conhecia o atleta, mas fiquei a saber que é um dos melhores atletas da América do Sul, é profissional em ciclismo. Bom, não estou a rebaixar-me, mas de facto o segundo lugar competindo com um atleta deste calibre é menos mau.


 
O acampamento de hoje em Pucon tem vista para o Vulcão Villarica, um das principais atracções do  Chile. 

A etapa de amanhã tem cerca…espera lá, é a ultima etapa da TransAndes! Já vai acabar…São 46km com 1410m D+. Estarei à espreita e a dar o máximo para sair da prova com a cabeça erguida e assim retribuir todo o apoio que tanto eu como o Tiago e a Rita temos recebido ao longo destes dias. 



Quem lê estes reports e quiser saber algo em especifico poderá comentar que eu farei questão de responder. Ontem a Anita perguntou como era a comida. Os BTTistas são uma espécie que se alimenta bem e numa prova desta natureza não pode falhar. Durante as etapas os abastecimentos são generosos em variedade de líquidos e sólidos. Existem gomas, doces, barras, vários tipos de fruta, Coca-Cola, sais, água e mais algumas coisas que eu não me recordo. No acampamento são servidas 3 refeições (de garfo e faca): pequeno-almoço, almoço e jantar, além do pequeno abastecimento após a linha de meta. 

O pequeno-almoço por vezes revela-se escasso na oferta. Não existem cereais, nem fiambre e o queijo só vi uma vez. O normal são ovos mexidos, pão (que saudades do pão português), iogurtes, bolachas, fruta e café (dissolvido). 

O almoço e o jantar são basicamente as mesmas coisas: massa, arroz, puré, carne (frango ou porco ou vaca), alface, tomate, feijão verde, cenoura. Para sobremesa temos frutas que são de óptima qualidade! Ontem tivemos a sorte de ter torta que fez atenuar a minha ressaca de doces, principalmente chocolate! 

Amigos, obrigado por estarem desse lado, por aguardarem ansiosamente pelos resultados e ficarem a torcer pela melhor classificação possível. A camisola de líder que usei durante 4 etapas é dedicada a vocês! 


Podem ver mais fotos na minha página de atleta no Facebook:

www.facebook.com/marinhojoao

Ride & Smile :)

quinta-feira, janeiro 24, 2013

TransAndes Dia 4



KAPUTA! O Chileno é f$did%! Já sabia que ia atacar num local estratégico por isso fui acompanhando e para mim a etapa só começaria na altura que ele atacasse. Isso aconteceu por volta do km 23, numa subida (claro). Quando ataca, ataca a valer e dentro das minhas possibilidades dei a luta que pude, mas fui percebendo que as minhas pernocas e o meu batimento estavam a dizer para abrandar e ele literalmente desapareceu. O Tiago não se sentiu bem e não veio comigo por isso andei o resto da etapa sozinho. 

Voltando um pouco atrás, os primeiros 20km foram a rolar em estradão de gravilha. O pó, as pedras a saltar e os restantes atletas exigiam a máxima atenção. Rolar a 40km\h nestas condições sobe a adrenalina.


Estudei a etapa e dos dois abastecimentos, um deles eu iria abdicar. Quando passei o primeiro, estava suficientemente abastecido para fazer 30km até ao segundo. Felizmente que grande parte destes 30km foram dentro da floresta, escondidos do sol porque senão acho que ia pagar a factura.

Como andei a estudar a etapa, sabia que depois do 1º abastecimento teria 6km de ‘’parede’’ com elevadas inclinações. Alguns pontos passou os 25%...que saudades eu senti da pedaleira tripla com a avozinha! Depois desta subida entramos numa densa e majestosa floresta. O trilho virou singletrack repleto de raízes, mas um verdadeiro carrossel. Monta, desmonta, troca a velocidade, trava, pedala…isto durante uns 3kms.
No topo da subida estava um lago que a organização apelidou de lago secreto. Visual incrível!

Depois (finalmente) veio a descida. Foram alguns kms de singletrack divertidos e imaginem bem, na ‘’roda’’ de uma vaca de para aí 500kg! Eu queria passar mas ela teimava em galgar na minha frente. Como se não bastasse uma, depois juntaram-se mais 4! Não arrisquei demasiado a ultrapassagem e aguardei que saíssem do trilho. Quando finalmente saíram a descida acentuou-se, as raízes desapareceram e o trilho era em terra solta com constantes curvas e contra-curvas. Foram alguns kms de ‘’loucura total’’. 

Terminando esta descida pouco mais acrescento à etapa. Houve uma longa ponte suspensa sobre um Rio. Nem reparei na altura, mas segundo o Tiago tinha mais de 120m de altura. Eu passei a pedalar contra a vontade da organização, talvez posso isso não olhei lá para baixo.

Os últimos 27km a rolar contra ao vento foi a facada final. Sozinho, nestes estradões de gravilha com carros a passar sem sequer abrandar foi um desespero. Segundo a organização a etapa tinha sido encurtada para 70km, mas no final o meu gps marcou 77km!

Cortei a meta com 10min de diferença para o Javier, mantenho a 1ª posição com uns minutos de vantagem. Vou continuar a dar tudo o que tenho e o que não tenho até terminar a prova!

A etapa de amanhã liga Menetué a Pucón num total de 75km (será mesmo?) e 1850m D+. Pucón é o ultimo acampamento, vamos ficar neste local os próximos dois dias. Só espero que os 50% da etapa em estrada secundária não sejam contra o vento como hoje!

 O Tiago terminou em 3º e consolidou a 3ª posição da geral. A Rita ainda não tenho informações.No final tinha o Huillo esperando-me para mais uma sessão de brincadeira...priceless!




Um agradecimento sentido a todos os que estão desse lado torcendo e dando força! É simplesmente arrepiante! 


Podem ver mais fotos na minha página de atleta no Facebook:

www.facebook.com/marinhojoao

Ride & Smile :)

quarta-feira, janeiro 23, 2013

TransAndes Dia 3



O meu corpo teima em não responder do jeito que normalmente responde numa prova por etapas. Eu aperto comigo, a pulsação dispara mas as pernas não debitam a potência e a cadência que eu preciso para me bater com o meu adversário mais directo, Javier. Vim a descobrir que afinal ele é nativo, já várias vezes a TransAndes e é o actual campeão nacional de Maratonas do Chile. 

Antes de falar de hoje, tenho de voltar ao dia de ontem. Tanto eu como o Tiago tivemos problemas mecânicos. Supostamente trocar um guiador seria algo simples…mas acontece que o guiador que ele arranjou é sobre-elevado e os cabos estavam curtos. Os escassos recursos dos mecânicos que dão assistência à prova resultou num stress que só terminou depois das 22.30h.
Trocar um raio também é coisa que normalmente é simples…se houver outro raio igual. Acho que arranjei todos os raios menos aquele que precisava! A salvação veio de um americano que me cedeu a sua roda com um pneu tipo tractor (amanhã coloco foto) mas estava nem aí. Com ajuda do mecânico da Shimano resolvi o meu às 22h!

 
A etapa de hoje supostamente consistia em subir o Vulcão Villarica e depois descer até à meta. Parte confirmou-se, outra parte reservou-nos algumas surpresas. No Chile as estradas secundárias são estradas com gravilha onde os carros passam como se estivessem em alcatrão. Cerca de 80% da etapa foi neste tipo de piso. Sabia que me tinha de proteger dos ataques iniciais e eu mesmo impus o ritmo na primeira subida. O pelotão partiu-se e na estrada para a principal subida do dia estava eu, o Tiago e o Javier. Esta etapa é uma clássica da TransAndes, que se tem mantido igual ao longo das 5 edições da prova. Com a preciosa ajuda do Tiago o Javier apenas fugiu quando faltavam ‘’apenas’’ 6km para terminar a subida do Vulcão. Depois iniciou-se a longa e vertiginosa descida, inicialmente em trilho técnico com raízes, drops, regos, mas o mais perigoso foi mesmo outros ciclistas na direcção contrária. 

Com o cuidado possível desci o mais depressa que pude tentando ganhar tempo para o Javier. A parte técnica terminou depressa e deu lugar ao típico estradão do Chile. O Tiago afastou-se um pouco de mim no início por causa do pó e até à meta não conseguimos mais trabalhar em equipa. Estava num dilema, se continuava no meu ritmo ou se esperava pelo Tiago. Olhava para trás e nas retas mais longas conseguia vê-lo, mas não podia\devia abrandar porque estávamos a descer muito rápido, ás vezes acima dos 60km\h. Pensei quando houvesse uma parte mais plana ele conseguisse alcançar-me. O 2º abastecimento a meio desta descida que eu optei por não parar e o Tiago parou, ditou a separação até ao final. 

Cortei a meta com cerca de 5min de diferença para o Javier e com uma vantagem de 1min para o Tiago. Agora a minha vantagem é de 19min e o Tiago consolidou o 3º lugar que à partida para esta etapa estava cifrado em apenas 1s!

A Rita chegou novamente em 3º fresquinha que nem uma alface. Que inveja! 

O ponto alto desta etapa foi a passagem pelo Parque Nacional do Vulcão Villarica onde fomos recebidos por uma espectacular floresta de Araucárias centenárias. Esta floresta fazia lembrar o Parque Jurássico! A cinza vulcânica aparecia aqui alí lembrando-nos que estávamos junto ao mais alto Vulcão do Chile e que está em actividade. Amanhã a etapa tem o mesmo ponto de partida e chegada que é o lugar onde estamos – Menetúe. Segundo ouvi, trata-se da etapa rainha da prova por ser a mais longa, a mais técnica e a mais exigente fisicamente. Algo que me agrada à partida!


Não me canso de agradecer os vossos watts extra que tem sido tão importantes e agora que a prova entra na derradeira 2ª metade, mais ainda! 

Podem ver mais fotos na minha página de atleta no Facebook:

Ride & Smile