A ultima vez que tinha ido a Santiago foi em 2005, quando na altura fiz a Via da Prata que liga Sevilha a Santiago de Compostela. Quase 8 anos depois, fiz novamente um Caminho de Santiago aproveitando a celebração da Páscoa. Fazer o Caminho Português de Santiago foi na altura (em 2003) a primeira grande aventura fora de Portugal. É como um regresso ao passado, um regresso às origens e às primeiras sensações de liberdade e conquista.
1º Dia : Porto - Barcelos - Ponte de Lima - Valença
Na companhia do Luís, que se iniciava nestas ''andanças'', lançamo-nos à procura das setas amarelas. As mochilas não permitiam levar tudo o que nós queríamos, por isso tivemos de abdicar de certas coisas como as capas dos pés, mudas de roupa, ou mesmo roupa quente. Levamos o ''estritamente necessário''.
A boa disposição reinante condizia com a nossa indumentária que fez furor por onde passamos...
Apesar de todas as previsões indicar chuva e frio, nós pedalamos durante grande parte do primeiro dia em calção e jersey de manga curta.
Apesar de todas as previsões indicar chuva e frio, nós pedalamos durante grande parte do primeiro dia em calção e jersey de manga curta.
Saímos da Sé do Porto, percorremos as estreitas ruas da invicta, passando por alguns monumentos que tão bem caracterizam esta cidade...Torres dos Clérigos, Largo da Cordoaria, Igreja de Nossa Sra. da Graça. Até entrar nos primeiros trilhos percorremos cerca de 30km até Tougues, no conselho de Vila de Conde. Daí para a frente é um misto de trilhos com estradas secundárias passando por Barcelos até Ponte de Lima.
Em
Ponte de Lima almoçamos...já tinha saudades destes ''almoços''.
Compramos queijo, fiambre, marmelada, pão de forma e sentados num banco
em pleno centro histórico da vila tivemos o nosso belo e merecido
repasto. A sobremesa foi uma tablete de chocolate, uma das nove que
levamos! Como eu gosto de pedalar para depois comer assim com ''a força
toda''! Mnham mnham!
Depois de Ponte de Lima vem a grande dificuldade do caminho, em solo Português, a subida da Serra da Labruja. A minha memoria apenas reteve pequenos troços do caminho, por isso para mim estava a ser quase 100% novidade, tirando esta subida que continua a ser impossível de se fazer a pedalar.
No topo da serra a chuva começou a cair e não nos largou até chegarmos ao Albergue de S. Teotónio em Valença. Os trilhos enlamedos tornaram-se ainda mais divertidos e tanto eu como ao Luís estávamos esfuziantes com a situação.
Ainda ponderamos continuar até ao Albergue em Porriño, mas a nossa temperatura corporal opôs-se e ficamos mesmo em Valença. Foram 130km em 10h o que já estava muito bem para o primeiro dia.
Depois de um loooongo banho quente fomos às compras para o jantar. O Sr. Luís deitou a baixo uma pizza sozinho. Eu fiquei-me pelos rissóis oferecidos por um grupo de peregrinos. Ficamos um pouco na conversa até o cansaço se apoderar de nós.
2º Dia : Valença - Pontevedra - Santiago de Compostela - Caldas do Reis
No dia seguinte fomos os últimos a sair da albergue, mas tem uma justificação, estivemos a secar a roupa. Ambos acordamos com o barulho dos peregrinos, mas a cama estava a saber tão bem...se não fosse eu a tirar o Luís da cama ainda lá estava a dormir! Crentes que íamos ter a mesma sorte que no dia anterior, iniciamos o nosso dia sequinhos...2kms depois já estávamos encharcados!
Tui é a primeira cidade Espanhola do Caminho, faz fronteira com Portugal. Esta região caracteriza-se pelas Rias Bajas...que por sinal estavam altas! Em alguns pontos foi impossível transitar, noutros usou-se a ''imaginação'' para atravessarmos os caudais.
As primeiras dezenas de kms de Espanha são de certa forma monótonas. Muita estrada, pouco que ver e com o tempo cinzento era pedalar e esperar que os kms passassem. Fui partilhando com Luís as memorias que tinha do caminho, saltando a celebre actuação do amigo Navega no albergue em Redondela.
Depois de Pontevedra os trilhos aparecem com mais regularidade e tornam o Caminho mais divertido para quem pedala. Viam-se muitos peregrinos a caminhar, notava-se que estavam compenetrados na reflexão, mas sempre que os cruzávamos a saudação de ''bon camiño'' fazia-se ouvir de parte a parte.
A chuva não abrandava e a mais pequena paragem iria fazer bater o dente. Solução, não parar. Fomos comendo as bolachas (recheadas com chocolate), e as tabletes que corajosamente sobrevivam à intempérie.
O meu isquiotibial esquerdo começa-se a ressentir a 30km de Santiago, tinha de aguentar firme ''os choques''. Quem já teve esta lesão sabe do que eu estou a falar. Santiago, me ajude!
Por volta das 17h chegamos à Praça do Obradoiro onde a monumental Catedral de Santiago nos paraleliza, a transferência de energia do local é impressionante. Com o som da gaita de foles, ecoando na praça, com os gritos de celebração de outros peregrinos eu parei durante uns bons minutos, interiorizando, reflectindo e como que carregando energia .
As primeiras palavras do Luís foram: ''quando vamos fazer o Francês ou a Via da Prata?'' Pedalar com o Luís foi tão simples, tão natural e de uma sintonia perfeita que até me chega a ''assustar''. Certamente que iremos pedalar juntos mais vezes e mais dias.
Era tempo de irmos à Oficina do Peregrino e receber as Compostelas comprovando que fizemos o Caminho. Depois tínhamos iniciar o regresso a Portugal... a pedalar. Optamos por não ficar em Santiago por que além da confusão, não queríamos gastar dinheiro em albergues mais caros, por isso começamos o regresso a Portugal, mas por estrada. A noite caiu, chegamos a Padrón (cerca de 20km de Santiago) onde tencionávamos dormir...o albergue estava lotado! Tínhamos de fazer mais 20km até ao próximo, mas a fome apertava. Felizmente que havia festa na cidade e fomos à procura da barraca dos cachorros...comemos o que tínhamos direito e mais um pouco!
Era pedalar o mais rápido possivel noite dentro até Caldas dos Reis e esperar ter lugar no albergue. Lá expliquei ao Luís que ''as roubadas'' fazem parte de uma boa aventura. Sempre tive situações mais embaraçosas que por momentos me colocaram em apuros, mas que mais tarde nos fazia dar tanta risada.
Upss, chegamos um pouco depois das 22h Albergue e o tinha na porta ''Completo\Full''. Claro que nos rimos e de imediato pensamos em pedalar para o próximo...até que alguém vem à porta e pergunta quantos éramos. Com a graça de Deus o voluntário conseguiu arranjar espaço para nós. Já tínhamos 150km nas pernas e chuva não parava de cair. Depois de mais um loooongo banho e de mais uma intensa luta com a roupa suja, fomos socializar ao bar mais próximo. Por estarmos em Espanha e na Galiza partilhei com o Luís mais memórias de provas de XCO da Maxxis Cup, da Taça do Mundo de Madrid. Quando começo a falar parece que tudo se aviva na minha cabeça. É bom poder conversar com um amigo assim.
3º Dia : Caldas dos Reis - Valença - Caminha - Viana do Castelo - Porto
No dia seguinte fomos novamente os últimos a sair do Albergue. Já percebi que o Luís também tem sono fácil e para o tirar da cama, leia-se colchão, é necessária alguma insistência. O nosso pequeno almoço foi uma maça dividida e para variar, uma tablete de chocolate e toca a fazermo-nos à estrada.
A chuva tinha parado e podíamos novamente ir em modo ''descapotável''. O Luís insistia que queria bronzear...
Passamos Porriño e veio novamente a questão que nunca consegui responder: Como chegamos a Tui sem ser pela ''autopista''? Naquele momento surge um ciclista, que parecia que tinha aterrado ali para nos indicar o caminho certo para Portugal. Expliquei ao Luís que estas coisas não acontecem por acaso e dei-lhe alguns exemplos do passado.
No jardim das muralhas de Valença tivemos o nosso merecido almoço, para variar umas ''deliciosas'' sandochas. O meu joelho fustigava-me de dor. Cada pedalada era uma guinada, mas estava a ficar mais doloroso e ainda tinha 120km para fazer...
Em Moledo curtimos uma esplanada na companhia do Maurício e da Ana Cavadas...que delicia, obrigado amigos!
Nessa altura o Frinxas convida-nos para jantar em casa dele com massa feita por ele mesmo. Foi de imediatamente aceite o convite e havia que dar à perna para chegar ao Porto a horas ''decentes''.
Sempre que passava um grupo por nós de ciclistas aproveitamos a boleia, mas sempre que isso aconteceu, algum tempo depois entravamos em ''fuga'' dada a nossa preocupação em cumprir o horário.
O nosso estômago reconfortou-se
com as várias pratadas de massa do Frinxas! Ficamos no aço! Obrigado
amigo! Não podia haver melhor forma de selar esta aventura.
Ao Luís,
Foi um prazer fazer esta aventura contigo, tudo funcionou como deveria ter funcionado e descobri que somos bem parecidos em muita coisa apesar da nossa diferença de idades. Obrigado por alinhares nas palhaçadas e nas ''roubadas''. Venham mais!
Podem ler o relato dele aqui: http://wwwluiscarlos12.blogspot.pt/2013/04/santiago-de-compostela-expresso-ida.html
Podem ler o relato dele aqui: http://wwwluiscarlos12.blogspot.pt/2013/04/santiago-de-compostela-expresso-ida.html
O "estritamente necessário" inclui peruca cor de rosa!?
ResponderEliminarHahahaha
Adorei ler o relato e ver as fotos. Tipo de roubadas que a gente adora né?
Muito legal que curtiram a valer e ainda pedalaram para cacete!
Beijinhos nos dois!
A peruca era o toque de charme!hahaha
EliminarEssas mesmo! Roubadas master! Vamos aprontar alguma para breve? :-)
Beijinho
Roubadas ou por gamar (estão a falar de quê afinal?), uma coisa é certa...
ResponderEliminarFoi com muita pena que não consegui acompanhar as loiras (leia-se rosas), mas ao fim ao cabo foi uma noite bem passada. Se valeram a pena as oras de volta dos ovos e da farinha por causa da massa? Claro que não. Aquilo desaparece em 3 tempos, mas na próxima farei melhor... Basta ligar á Telepizza!
A foto que estás com uma capa (ou saco?) azul, á frente de um monumento qualquer, aquilo é Pontevedra ou não? Sei que quando fui na minha viagem tipo SUPER MEGA EXPRESSO parei ali uns belos minutos, para trocar as pilhas ao Gps e tentar arranjar umas pilhas para as pernas!!! SAUDADE!!!
Importante é que vocês se divertiram e que tudo correu bem, isso sim.
E tenham cuidado com certas poses nas fotos, pois se com cabeleiras já ficam com um ar suspeito, o jeitinho vai ajudar á festa!!!
Estritamente o necessário? 9 barras de chocolate? Pois... Eu sei!!!
UM FORTE ABRAÇO E UM GRANDE BEM HAJA!!!!
Grande amigo, obrigado pelo teu comentário, mas muito obrigado pela massa à la Frinxini ehehe
ResponderEliminarSentimos a tua falta amigo, fica para a próximo!
Forte abraço
Adorei as perucas!! Grandas malucos!!! Ehehehehehe
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