O quê? Fazer 88km com 5 000m de desnível positivo a correr? Eu há um ano atrás diria que isso é coisa de loucos e alcance de pouca gente depois de fazer o Trail de 30Km (http://www.joaomarinho.com/2012/11/ax-trail-lousa.html). Também diria que não estava nos meus horizontes fazer ultra maratonas na montanha apesar de sempre ter gostado de correr. A vida dá muitas voltas e passado um ano já fiz algumas ultras e acabei por me inscrever no UTAX.
Só sabemos os nossos limites se os tentarmos ultrapassar, assim sendo, o máximo que tinha corrido num dia foi 50km portanto estava a elevar bastante a fasquia. Siga!
Adoptado pela família Desnível Positivo, rumei novamente à Serra da Lousã. Uma viagem muito animada como é costume com ''personagens'' deste calibre. Chegamos cedo, instalamo-nos numa casa a 100m (Obrigado Querido, Bruno Querido) da partida que desta vez foi em Castanheira de Pêra. Jantamos tranquilamente e assistimos ao briefing. Devido às condições meteorológicas, a prova tinha sido encurtada 15km, ou seja, passou de 88km para 73km. Quando o briefing terminou, a chuva caía impiedosamente, mas as previsões apontavam para uma melhoria significativa do tempo. Pp Todos nós rezávamos para que isso acontecesse...
Já em casa começou ''cowboiada''...muito me ri até altas horas da madrugada. Eram historias, eram anedotas, eram ruídos ''estranhos'', ninguém pregou olho até tarde...
A alvorada às 04.00h da matina mais parecia um choque de 220V. Apesar de nem todos arrancarmos às 06.00h, todos combinaram estar na partida para apoiar o inicio de uma longa jornada pelos trilhos das Aldeias do Xisto. Durante 1.30h corremos na escuridão...eu feito 'inteligente' levei o frontal, não na cabeça, mas na mochila. Tive de andar sempre com o pessoal porque não queria parar para o colocar na cabeça...enfim, dêem-me um desconto!
Sobre o percurso:
O percurso de 88 km de distância inicia-se na Vila de Castanheira de Pêra, na Praça da Notabilidade, tomando a direcção Oeste para o Parque eólico no cimo da Serra da Lousã. Depois de percorrer cerca de 7 km no topo desta cumeada, inicia-se a descida para as aldeias do Catarredor e Vaqueirinho, e daí para as Aldeias do Xisto do Talasnal, Casal Novo e Chiqueiro (Lousã). É então que o percurso se dirige para o "Terreiro das Bruxas" e daí sobe para o Parque eólico de Vila Nova, já no Município de Miranda do Corvo. Ao chegar próximo das primeiras eólicas inicia-se a descida para o Gondramaz, onde se inicia um novo troço de percurso bastante técnico e de declive acentuado marcado pela presença da ribeira de Espinho, suas cascatas e pontes em madeira. Ao final desta descida, segue-se por cacilhas, rumo à Lousã.
À entrada da vila, o percurso segue pelo Caminho do Xisto - Rota dos Moinhos, passando ao lado da Fábrica do Papel do Prado, e acompanhando a Ribeira de S. João para montante, em direcção a um dos principais locais de visita deste concelho: o Castelo de Arouce, ermidas e praia fluvial. É neste momento que começa uma longa subida, inicialmente de suave inclinação até à Central Hidroeléctrica, que aos poucos aumenta de desnível, oferecendo em compensação excelentes panorâmicas. Depois de percorrer a levada, e de um longo troço de trilho técnico, surge a Aldeia do Xisto do Candal. Aos poucos abandona-se a aldeia e surge um novo trilho em direcção à aldeia de Cerdeira. A passagem por esta Aldeia do Xisto adivinha o fim desta longa subida e depois de um último esforço começam a avistar-se os aerogeradores de Vilarinho e o Trevim (ponto mais alto da Serra da Lousã - 1205 m).
Fonte: AXTrail Series
Os primeiros kms foram tenebrosos, doía-me tudo, e ao fim de 20km já estava a fazer contas como iria terminar a prova. Paguei a factura das aventuras no Douro e Marão...No Trail os kms passam muito devagar, tens que ter perseverança e resiliência. Quanto estamos imersos nos trilhos o tempo passa lentamente, as dores acumulam-se e temos ter ir buscar energia a tudo, principalmente à nossa cabeça. Uma ultra maratona é muito mais uma questão de cabeça do que de pernas. Mas as ultimas dezenas de metros antes de cortar a meta, a felicidade aumenta exponencialmente, a emoção toma conta de nós e (quase) esquecemos o sofrimento das ultimas horas passadas nos trilhos.
Muitos trilhos já conhecia das visitas anteriores à Lousã, fossem elas para correr ou para pedalar. Esta serra tem trilhos para todos os gostos, um autentico ''playground'' com as encantadoras aldeias do Xisto espalhadas por todo o lado. Mas sempre que venho ''cá'' fico a conhecer mais recantos. Este UTAX revelou-me trilhos que não conhecia e que felizmente estão a ser recuperados para fins turísticos.
Voltando à prova, por volta do km 45 comecei a cruzar-me com os atletas que estavam a fazer o Trail da Serra da Lousa, no famoso trilho da levada. Para mim era bom porque já não via gente há muito tempo. Já passava das 5h que estava na montanha, as pernas estavam pesadas, mas ainda conseguia manter um trote ''rápido'', mas algo estava a acontecer...quando parei no abastecimento do km 50 estava quase KO. Parei, sentei-me, comi, bebi e até um batido de recuperação fiz. Perguntaram se estava tudo bem comigo, porque estava com um aspecto esquisito. O Rochinha e o Urbano (amigos da ADA) perguntaram até se eu precisava de alguma coisa tal era o meu ''estado''.
Depois deste abastecimento, veio uma parede que fiz a caminhar. Os bastões fizeram falta, mas cismei em não levar, as pernas que me perdoem...Quando terminou a parede a ''coisa'' ficou quase plana e comentei com outro companheiro de luta que também ia a caminhar, devíamos fazer isto a correr. Ao longe comecei a ver uns pontos coloridos a subir um corta-fogo e disse, vamos aproveitar para recuperar...
Subir o mítico Trevim até nem foi problema, apesar do frio e vento que se fez sentir lá em cima, o problema foi mesmo descer os corta-fogos em direcção à Capela do Santo António da Neves...A inclinação e o piso era demolidor... Depois veio um longo single-track que nos levou até ao ultimo abastecimento no Coentral. Aqui cruzei-me com o Taxa e o Dionísio da Desnível. O abraço que me deram, traduziu-se em força extra para os últimos 10km.
Já conseguia visualizar a meta na minha mente. O sofrimento apesar de se fazer sentir de uma forma intensa, iria terminar em pouco tempo. Estes últimos kms feitos em alcatrão, com algumas rectas intermináveis pareciam que custavam mais a fazer que os trilhos do meio da Serra. Só pedia que o trilho fosse o mais directo possivel à meta, isto é, para não andarmos às voltinhas com a meta à vista. Felizmente que este meu pedido foi (quase) totalmente concedido.
Depois de 9.50min, com vários milhares de metros de acumulado ao longo de 73km, regressei ao ponto de partida. Este meu esforço foi contemplado com a 17ª posição. Para mim que há um mês atrás estava terminar uma prova de BTT de 7 etapas (Mongolia Bike Challenge) seguidos de 1 100km no deserto, este resultado foi muito bom. Inacreditável mesmo!
O Diogo Almeida foi o herói da equipa ao terminar o UTAX e a sofrer até ao fim. Esperamos por ele com a animação que nos caracteriza, sendo a nossa presença junto á meta bastante 'ruidosa'.
Sobre o percurso:
O percurso de 88 km de distância inicia-se na Vila de Castanheira de Pêra, na Praça da Notabilidade, tomando a direcção Oeste para o Parque eólico no cimo da Serra da Lousã. Depois de percorrer cerca de 7 km no topo desta cumeada, inicia-se a descida para as aldeias do Catarredor e Vaqueirinho, e daí para as Aldeias do Xisto do Talasnal, Casal Novo e Chiqueiro (Lousã). É então que o percurso se dirige para o "Terreiro das Bruxas" e daí sobe para o Parque eólico de Vila Nova, já no Município de Miranda do Corvo. Ao chegar próximo das primeiras eólicas inicia-se a descida para o Gondramaz, onde se inicia um novo troço de percurso bastante técnico e de declive acentuado marcado pela presença da ribeira de Espinho, suas cascatas e pontes em madeira. Ao final desta descida, segue-se por cacilhas, rumo à Lousã.
À entrada da vila, o percurso segue pelo Caminho do Xisto - Rota dos Moinhos, passando ao lado da Fábrica do Papel do Prado, e acompanhando a Ribeira de S. João para montante, em direcção a um dos principais locais de visita deste concelho: o Castelo de Arouce, ermidas e praia fluvial. É neste momento que começa uma longa subida, inicialmente de suave inclinação até à Central Hidroeléctrica, que aos poucos aumenta de desnível, oferecendo em compensação excelentes panorâmicas. Depois de percorrer a levada, e de um longo troço de trilho técnico, surge a Aldeia do Xisto do Candal. Aos poucos abandona-se a aldeia e surge um novo trilho em direcção à aldeia de Cerdeira. A passagem por esta Aldeia do Xisto adivinha o fim desta longa subida e depois de um último esforço começam a avistar-se os aerogeradores de Vilarinho e o Trevim (ponto mais alto da Serra da Lousã - 1205 m).
Fonte: AXTrail Series
Os primeiros kms foram tenebrosos, doía-me tudo, e ao fim de 20km já estava a fazer contas como iria terminar a prova. Paguei a factura das aventuras no Douro e Marão...No Trail os kms passam muito devagar, tens que ter perseverança e resiliência. Quanto estamos imersos nos trilhos o tempo passa lentamente, as dores acumulam-se e temos ter ir buscar energia a tudo, principalmente à nossa cabeça. Uma ultra maratona é muito mais uma questão de cabeça do que de pernas. Mas as ultimas dezenas de metros antes de cortar a meta, a felicidade aumenta exponencialmente, a emoção toma conta de nós e (quase) esquecemos o sofrimento das ultimas horas passadas nos trilhos.
Muitos trilhos já conhecia das visitas anteriores à Lousã, fossem elas para correr ou para pedalar. Esta serra tem trilhos para todos os gostos, um autentico ''playground'' com as encantadoras aldeias do Xisto espalhadas por todo o lado. Mas sempre que venho ''cá'' fico a conhecer mais recantos. Este UTAX revelou-me trilhos que não conhecia e que felizmente estão a ser recuperados para fins turísticos.
Voltando à prova, por volta do km 45 comecei a cruzar-me com os atletas que estavam a fazer o Trail da Serra da Lousa, no famoso trilho da levada. Para mim era bom porque já não via gente há muito tempo. Já passava das 5h que estava na montanha, as pernas estavam pesadas, mas ainda conseguia manter um trote ''rápido'', mas algo estava a acontecer...quando parei no abastecimento do km 50 estava quase KO. Parei, sentei-me, comi, bebi e até um batido de recuperação fiz. Perguntaram se estava tudo bem comigo, porque estava com um aspecto esquisito. O Rochinha e o Urbano (amigos da ADA) perguntaram até se eu precisava de alguma coisa tal era o meu ''estado''.
Depois deste abastecimento, veio uma parede que fiz a caminhar. Os bastões fizeram falta, mas cismei em não levar, as pernas que me perdoem...Quando terminou a parede a ''coisa'' ficou quase plana e comentei com outro companheiro de luta que também ia a caminhar, devíamos fazer isto a correr. Ao longe comecei a ver uns pontos coloridos a subir um corta-fogo e disse, vamos aproveitar para recuperar...
Subir o mítico Trevim até nem foi problema, apesar do frio e vento que se fez sentir lá em cima, o problema foi mesmo descer os corta-fogos em direcção à Capela do Santo António da Neves...A inclinação e o piso era demolidor... Depois veio um longo single-track que nos levou até ao ultimo abastecimento no Coentral. Aqui cruzei-me com o Taxa e o Dionísio da Desnível. O abraço que me deram, traduziu-se em força extra para os últimos 10km.
Já conseguia visualizar a meta na minha mente. O sofrimento apesar de se fazer sentir de uma forma intensa, iria terminar em pouco tempo. Estes últimos kms feitos em alcatrão, com algumas rectas intermináveis pareciam que custavam mais a fazer que os trilhos do meio da Serra. Só pedia que o trilho fosse o mais directo possivel à meta, isto é, para não andarmos às voltinhas com a meta à vista. Felizmente que este meu pedido foi (quase) totalmente concedido.
Depois de 9.50min, com vários milhares de metros de acumulado ao longo de 73km, regressei ao ponto de partida. Este meu esforço foi contemplado com a 17ª posição. Para mim que há um mês atrás estava terminar uma prova de BTT de 7 etapas (Mongolia Bike Challenge) seguidos de 1 100km no deserto, este resultado foi muito bom. Inacreditável mesmo!
O Diogo Almeida foi o herói da equipa ao terminar o UTAX e a sofrer até ao fim. Esperamos por ele com a animação que nos caracteriza, sendo a nossa presença junto á meta bastante 'ruidosa'.
Todos os atletas que alinharam na Ultra ou no Trail terminaram as suas provas, com a excepção do Bruno que devido a lesão foi obrigado a desistir. Parabéns a todos, Ester, Diogo, Bruno, Artur, Vitor, Renato, Dioniso, Pedro e Ricardo!
A organização do UTAX está a cargo da Go Outdoor dos amigos Fernando e Ana. Nota-se que trabalham por paixão, que gostam daquilo que fazem. Organizar uma ''brincadeira'' destas é desgastante e está sempre sujeito a falhas. Apesar de alguns problemas pontuais com as marcações, o balanço é positivo e as falhas são facilmente corrigidas para futuras edições.
O meu irmão completou a ultra de 45km, sofreu bastante, mas teve a tenacidade suficiente para completar a prova. Quando passei por ele lá no meio da Serra e lhe dirigi umas palavras dizendo que tinha a mochila aberta, só reconheceu que era eu quando passei por ele. Esperei por ele na meta para lhe dar um abraço ao melhor irmão do mundo!!!
Seguiu-se o jantar de confraternização...tenho flash's do ''conbibio'', dos jarros de tintol, da mousse de chocolate e de alguém a gatinhar por baixo da mesa. Muitos acontecimentos se passaram no regresso a casa e mesmo dentro da casa, mas eu dormi que nem um menino e só acordei no dia seguinte.
Esperamos a entrega de prémios para ver a Ester a subir ao lugar mais alto do pódio. Uma prova impressionante que ela fez. Estás de parabéns ''máquina''!
Depois dos ''parabéns'' cantados em coro, distribui fatias de bolo de aniversários por todos os que estavam presentes. Foi uma bela maneira de celebrar o 30º aniversário, rodeado de amigos e com uma ENORME dor de pernas.
Uma nota de reflexão, no dia seguinte além de poder caminhar sem limitações, pedalei cerca de 3h tranquilamente. A dor de pernas estava lá, mas este 'sentimento' de querer e poder pedalar e caminhar foi inédito no dia seguinte a uma ultra.
Será de ter feito uma melhor gestão do esforço? Será que o empeno é inversamente proporcional aos kms? Será que o meu corpo está a começar a habituar-se ao Ultra Trail? Será que eu tenho de aumentar (ainda) mais os kms para no dia seguinte querer e conseguir correr? Como alguém diz, 'vale a pena pensar nisto'.
Obrigado à Desnivel Positivo pela diversão. Sem duvida que esta equipa é uma referência no Trail nacional a todos os nivéis!
Obrigado à Ancorensis por ceder a carrinha ''mágica'' para nos transportar.
Obrigado André pelas coisas que me emprestastes. Os bastões também deveriam ter vindo...
Obrigado a todos os que me cantaram os parabéns!
Obrigado à organização por mais um UTAX!
Venha a próxima...ULTRA!
Mais fotos na minha página de atleta no Facebook: https://www.facebook.com/marinhojoao
Obrigado à Desnivel Positivo pela diversão. Sem duvida que esta equipa é uma referência no Trail nacional a todos os nivéis!
Obrigado à Ancorensis por ceder a carrinha ''mágica'' para nos transportar.
Obrigado André pelas coisas que me emprestastes. Os bastões também deveriam ter vindo...
Obrigado a todos os que me cantaram os parabéns!
Obrigado à organização por mais um UTAX!
Venha a próxima...ULTRA!
Mais fotos na minha página de atleta no Facebook: https://www.facebook.com/marinhojoao
És uma atleta impressionante companheiro.
ResponderEliminarParabéns pelo feito!
Abraço :)
Parabéns pela prova e pelos 3.0 turbo! =)
ResponderEliminarBeijinhos
Duplo Parabéns João! ;)
ResponderEliminarUm Abraço