O que fica registado são os
resultados e hoje o meu não foi tão bom quanto esperava, mas estou feliz pelo
que fiz. Vamos por partes.
A etapa 6 do MBC tornou-se a mais
longa com 170km. Os primeiros 80km rolantes ao longo da estepe foi um bom
aquecimento para a segunda metade da etapa que era mais ondulante. Apesar de
ter havido algumas ‘’picardias’’ dentro do pelotão, este manteve-se praticamente
coeso. Dois atletas atacaram logo de inicio e andaram praticamente sozinhos o
tempo todo até serem alcançados nos últimos kms. Pouco há para registar até ao
ponto que começaram as subidas. Apesar das paisagens serem de cortar a
respiração como já estamos habituados, esta primeira parte foi monótona. O que
quebrava a monotonia era o piso tipo ‘’tábua de lavar roupa’’ e os bancos de
areia que fazia a adrenalina subir e que provocou algumas quedas.
Assim que começaram as subidas as
hostilidades subiram de tom. Primeiro foi o Marcel Zamora que escapou do grupo,
depois eu arrisquei e coloquei-me em fuga. Tínhamos sensivelmente 85km de
prova. Tinha que arriscar a minha sorte e numa subida ataquei e ganhei uma
vantagem confortável. Alguns kms depois alcancei um inglês que é repórter da
Pro Cycling Magazine e tem a escola toda da estrada, ou seja, um dos atributos
é manhosice. Quando chegamos juntos ao segundo posto de abastecimento ao km
100, enquanto eu enchia o meu bidon, saiu disparado a atacar feito maluco. Se
há coisa que eu abomino é ataques nas zonas de abastecimento. Tudo bem, já te
vou apanhar pensei cá para mim e depois de um par de kms apanhei-o. Depois de
puxar alguns kms olhei para ele e tipo, puxas? Vira-se para mim, ‘’no power’’
eu na minha boa-fé, ok eu puxo. Com que então ‘’no power’’ e não me largava a
roda. Cheguei a ponto que tinha de descansar algum tempo e disse-lhe que tinha
de puxar. De facto ele puxou, mas durante umas centenas de metros. Ao km 125
começo a ver o grupo da frente, o inglês disse que apenas me queria ajudar a
apanha-los, mas não é que o artista ataca, deixa-me para trás, passa o passa o
grupo e vai-se embora…No final perguntei-lhe, então ‘’no power?’’ vira-se para
mim, ‘’the power came back’’ grhhhh!! E a melhor de todas, ele já não está em
prova, ontem desistiu! Depois entendi, o outro inglês Matt Page que estava na
8ª posição, separado de mim 30segundos estava no grupo perseguidor e então este
outro inglês fez tudo para rebentar comigo…e conseguiu!
Ao km 130 os meus bidons estavam
sem nada, ainda faltavam 20kms para o terceiro posto. Comecei a abrandar a
cadência, sentia que estava a perder a potência e perdi o contacto com o
australiano que seguia comigo e que estava então na segunda posição. Estava a
desesperar para que aparecesse as bandeiras assinalando o abastecimento ao
longe. Quando finalmente as vi, já estava no limite. Parei e abasteci, o grupo
perseguidor alcançou-me neste exacto ponto e quando arranquei o meu corpo não
reagia. Bebia, comi tudo o que tinha mas cada vez estava mais fraco…o homem da
marreta apanhou-me. Veio o flashback da 7ª etapa da TransPortugal de 2007
quando tive pela última vez a mesma ‘’sensação’’ numa prova por etapas. Apesar
de terem passados 6 anos, continua bem marcada a marretada. Liguei o piloto
automático e fui indo...não conseguia colocar energia nos pedais, passei da
segunda posição para oitavo e ainda faltavam 20kms e algumas subidas. Tentei
animar-me, relativizar a situação, sim porque há coisas piores. Um atleta
partiu o quadro no primeiro dia e não pode continuar a prova, hoje dois atletas
do top 10 não arrancaram por causa de problemas intestinais. Mas eu queria
tanto ir ao pódio e vi a essa oportunidade fugir-me entre os dedos...Até a
líder feminina me ultrapassou nos últimos kms. Bom, não é vergonha nenhuma
porque ela anda que se farta!
Assim que terminei a etapa,
deitei-me e fiquei ali uns 10minutos assimilando o que me aconteceu. Só me
levantei quando me chamaram para ser entrevistado. Apesar de alguma frustração,
estou orgulhoso pelo que fiz e pela forma que encaro a competição. E acima de
tudo, pela oportunidade de fazer parte desta aventura. Os dados para registar
foram 171km com 1 182 de acumulado positivo em 6.13h.
O tempo hoje esteve fantástico,
pela primeira vez arranquei sem manguitos. Esteve céu limpo, e calor. Só de
pensar que ontem usei manguitos, pernitos, luvas e camisola térmica…
Depois de ter visto milhares de
cavalos e vacas, hoje além destes animais vimos bandos de camelos e veados. As águias e os abutres também deram um ar da sua graça e pairaram por cima de nós
várias vezes. Em mais nenhuma prova que participei vi tantos e tão variados de
bichos.
O espanhol Marcelo Zamora viu a
sua fuga bem sucedida e acabou por vencer a etapa. Em segundo lugar foi para o
seu irmão Pau Zamora e em terceiro o líder da prova, Cory Wallace. Nos
femininos, tudo se manteve igual.
Depois desta etapa penso que subi
2 lugares na classificação, mas só mais logo ao jantar é que tenho acesso aos
resultados. Mas é melhor esperar para ver quais os estragos que o homem da
marreta provocou.
Hoje os Gers onde estamos
instalados têm cama e ‘’aldeamento’’ teve mesmo banhos quentes. A primeira vez
desde que a prova começou. Quanto às camas, tenho que admitir que o meu corpo
já estava um pouco maçado de dormir no chão duro e como o meu saco cama é de
verão, rapo um frio desgraçado, mesmo dormindo vestido.
A última etapa é também a mais
curta, com 86km e 1 486m de acumulado positivo. Mudamos novamente de
acampamento, deixamos o complexo turístico Gun Galuut para terminarmos no
Parque Nacional do Século XIII que é gerido pelo principal patrocinador da
prova, a Genco Tour Bureau. De salientar a beleza do local onde estamos
instalados, há um enorme lago rodeado por um vale umas colinas que se perdem no
horizonte.
Não sei se amanhã terei condições
de escrever o relato da etapa devido às cerimónias previstas. Vou tentar, mas
caso não consiga, depois darei notícias.
João Marinho
Report dia 5 - http://www.joaomarinho.com/2013/09/mongolia-bike-challenge-dia-5.html
NOTA: Irei publicar um relato por dia ao longo dos próximos 7 dias.
Atenção que esta prova aconteceu entre 1 e 8 de Setembro, mas não tive
oportunidade de colocar os relatos online antes.
Mais fotos na minha página de atleta no Face Book: www.facebook.com/marinhojoao
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João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict