domingo, setembro 22, 2013

Mongolia Bike Challenge - Dia 3

Ontem quando cheguei à meta ao início da tarde, estava calor e ainda fui arrefecer as pernas ao rio. Ao final da tarde o tempo começou a mudar e a temperatura baixou consideravelmente.  Durante a noite ouvia-se a chuva a cair impiedosamente na cobertura do Ger. Mesmo dormindo vestido senti muito frio. De manhã quando acordei apesar da chuva ter parado, o frio e o vento continuavam. Vesti tudo o que tinha de mais quente, mas mesmo assim continuava gelado. A partida foi dada às 7.30h, o sol escondia-se atrás das nuvens a temperatura não subiu. Após 200m atravessamos o primeiro rio, tentei escolher uma trajectória que me permitisse molhar pouco os pés. Não serviu de nada, os rios e as poças de água foram uma constante. Alguns deles com água pela cintura…Os meus pés estavam tipo pedras, as mãos estavam ligeiramente melhores, mas o corpo não aquecia de maneira nenhuma. Os reflexos nestas condições são bem mais lentos e quando fugia de uma poça acabei por me estatelar no chão, felizmente sem consequências.

Ao 3º dia o meu corpo continua a dar sinais de melhoria e consigo aguentar o ritmo do grupo da frente. A etapa de hoje era mais ao meu jeito, menos rolante, mais técnica e estava com esperança de melhorar a minha classificação. Actualmente estou na 10ª posição. Depois da primeira montanha, a organização decide terminar com a etapa devido ao caudal de um rio que não permitia que se atravessasse. O gps marcava 41km. 

Antes disso já tínhamos passado por verdadeiros pântanos onde as carrinhas da organização tinham ficado atoladas na lama. Era impossível continuar com a prova. No ponto onde a etapa terminou, estavam duas carrinhas para onde entramos porque o frio era tanto que não se aguentava parado. Esperávamos por notícias sobre o que iria suceder. Ninguém sabia. Depois obrigaram-nos a sair da carrinha, a nossa reacção foi procurar um abrigo usado pelo gado até chegarem notícias. O grupo de atletas era cada vez maior e todos passando muito frio. Mandaram-nos fazer o caminho de volta, supostamente seria 10km (foram mais de 25Km), até encontrarmos abrigo em Ger’s de famílias nómadas. Atravessamos novamente os rios, os pântanos, descemos a montanha até finalmente chegarmos aos Ger’s. Entramos de imediato e acomodar-nos à volta do fogão a lenha para aquecermos. Os meus pés estavam completamente congelados, quando tirei as sapatilhas e as meias, as unhas estavam a ficar pretas. Aos poucos comecei a aquecer e ficamos ali novamente à espera de notícias. 

Ninguém sabia o que iria acontecer inicialmente, o objectivo era que os atletas se protegessem do frio. Alguém que estava a acompanhar a prova disse que a poucas centenas de metros de onde estávamos, já havia neve. A bondosa família nómada além de ceder os Ger’s para os atletas, distribuiu chã, leite, massa e sopa.
Teríamos de esperar até que todas as carrinhas da organização chegassem aquele local. Nessa altura o director de prova daria indicações. Depois de algumas horas à espera, dizem-nos que vamos ser evacuados até ao acampamento da chegada da etapa. De carrinha iria demorar cerca de 1.30h, mas a viagem demorou mais de 4h em caminhos rasgados pelo meio da estepe. 

O comboio de viaturas prolongava-se no horizonte. Nem todos os atletas foram evacuados na primeira vaga, foi preciso enviar carrinhas que estavam na meta para ir buscar quem sobrava. As bicicletas também ficaram para trás. A organização mandou os camiões que transportavam as nossas malas e que também estavam na meta, resgatar as nossas bicicletas.
Tinha o track da etapa carregado no gps, liguei para verificar se ainda faltava muito. Como já andávamos há 2h e nos foi dito que era 1.30h pensei que já estivéssemos perto. Tive que colocar a escala a 20km para conseguir observar o ponto onde terminava o track…

A meio do caminho entravamos numa estrada nacional onde o comboio parou para abastecer. Tudo o que era de comer foi tomado de assalto, estávamos todos esfomeados.
Depois destes kms em estrada voltamos aos estradões na estepe. Com uma velocidade por vezes superior a 60km\h, a competição deixou de ser de bicicletas e passou a ser de carrinhas. As ultrapassagens sucediam-se, muitas das vezes sem caminho o que resultou em amortecedores partidos…

Com um por do sol magistral chegamos ao acampamento. Não havia sinal de civilização nas redondezas. Assim que saímos das carrinhas procuramos a nossa mala, vestimo-nos e fomos directos para o jantar. Ninguém quis tomar banho.
A noite caiu, os atletas foram chegando, alguns a passar realmente mal, em vómitos, em hipotermia, com vários outros sintomas que apenas demonstram que a MBC não é um desafio para ser tomado de ânimo leve. 

Enquanto jantávamos comentou-se que estavam 10 atletas desaparecidos, só espero que estejam em algum Ger porque senão...
Não sei como vou conseguir dormir na tenda, está um frio de rachar, tenho quase toda a roupa vestida e o meu saco cama não é dos mais quentes…desejem-me sorte!

O plano para amanhã passa apenas por acordar às 07.00h para tomar o pequeno almoço e depois saberemos o que irá acontecer…

João Marinho


NOTA: Irei publicar um relato por dia ao longo dos próximos 7 dias. Atenção que esta prova aconteceu entre 1 e 8 de Setembro, mas não tive oportunidade de colocar os relatos online antes. 
Mais fotos na minha página de atleta no Face Book: www.facebook.com/marinhojoao







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João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict