Aos poucos o meu corpo começa a
entrar no ritmo de uma prova de etapas.
O arranque de hoje foi muito penoso que
ontem e além disso mantive-me com o grupo da frente durante muito tempo.
Descolei no posto de abastecimento, aliás, fiquei eu e outro atleta um pouco
mais tempo a repor os líquidos, e quando tentamos recolar, nunca mais foi
possível. A etapa tinha poucas subidas e nos planos é impossível ganhar tempo
para o grupo da frente. Fiquei num grupo de 6 atletas e mantivemo-nos juntos
até à ultima subida do dia, por volta do km 80. Aí eu ataquei! Estava a ver 2
atletas cerca de 3minutos à nossa frente há muitos kms e a minha estratégia era
apanha-los e continuar com eles até à meta. Consegui alcançar o segundo mesmo
no topo da subida onde estava instalado o 3º posto de abastecimento. Daí até à
meta seriam 40km, 5 deles a descer e os restantes em plano. A estratégia
resultou.
Falando da etapa, hoje foi muito
diferente de ontem, nem parecia que estávamos no mesmo país! As cor de outono
começam a notar-se na folhagem das árvores o que contrasta com o verde da erva
dos pastos. Nos últimos 30km as passagens de rio foram uma constante, alguns
deles dava para passar montado, mas na grande maioria desmontei ou porque não
queria arriscar a uma queda na água gelada ou porque eram demasiado profundos.
Houve um deles que a água chegava à cintura e com uma corrente considerável…foi
algo assustador, mas felizmente correu tudo bem. No meio do nada encontramos os
Ger’s onde habitam famílias nómadas que vivem daquilo que a terra dá e do gado.
Quando passamos olham para nós com um sorriso contagiante e vibram com a nossa
passagem. A beleza continua a ser indescritível, sendo impossível descrever em
palavras.
A meta instalada num local
isolado de tudo, onde não há rede nem sinal de civilização por perto, comprovam
que a MBC é uma aventura, uma expedição neste remoto país asiático. Para se
tomar banho a organização montou tendas específicas para esta finalidade, a
água vem directo do rio, ou seja, não está a mais que 10 graus de temperatura.
As refeições são servidas em tendas de campanha, assim como todos os restantes
serviços, massagens, mecânica, assistência médica, imprensa, etc. recorrem a
estas tendas. Para dormir existem Ger’s onde ficam instaladas 5 pessoas, mas
desta vez não há cama.
As provas por etapas em BTT são
fascinantes e apaixonantes. Permitem-nos conhecer o país, percorremos uma vasta
área diariamente, interagimos com pessoas de todo o mundo…é um enriquecimento
pessoal enorme. Eu adoro fazer isto!
O vencedor masculino de hoje foi
o espanhol Pau Zamora seguido de outro espanhol, António Ortiz. Em terceiro foi
um atleta da Mongólia. Cory Wallace perdeu 2minutos hoje, mas mantém a
liderança da prova. Em femininos a inglesa Catherine Williamson venceu a etapa,
aumentando assim a sua liderança. Quanto ao meu resultado, ainda não sei, fiz
5.11min e pelo que me disseram quem estava na meta, fiquei dentro dos 10
primeiros atletas à geral. Os resultados aqui tardam a sair…
Uma curiosidade, vou partilhar o
Ger com o Pau e como o António e já comecei a aperceber-me dos segredos…comer
chouriça com pão!
Os atletas que falam a língua de
Camões continuam frescos que nem uma alface. O brasileiro Ricardo e o português
Daniel Jesus acabaram as etapas com vontade de continuar a pedalar.
A etapa de amanhã decorrerá no
Parque Nacional Khan Khentii e deixaremos a tundra Siberiana. São 145km com 2
000m de D+. No final espera-nos uma subida de 28km.
João Marinho
NOTA: Irei publicar um relato por dia ao longo dos próximos 7 dias.
Atenção que esta prova aconteceu entre 1 e 8 de Setembro, mas não tive
oportunidade de colocar os relatos online antes.
Mais fotos na minha página de atleta no Face Book: www.facebook.com/marinhojoao
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João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict