Caminho Francês a Santiago de Compostela
Partida - St. Jean Pied du Port
Chegada - Santiago de Compostela - Amarante
Ano - 2004
Sobre os que são os Caminhos de Santiago, já expliquei o que era no post do
Caminho Português. Depois de ter feito em 2003 duas vezes o Caminho Português, a evolução natural seria o Francês por isso o destino nas férias escolares de 2004 foi facilmente encontrado. Seria a nossa maior aventura até então, por isso havia que preparar minimamente a viagem. Em 2003 tínhamos feito a
Volta a Portugal com alforges e apesar de praticamente não termos feito trilhos ficou claro que tão cedo não iríamos repetir uma viagem com este ''gingarelho''.
A escolha foi levarmos a casa às costas literalmente pois iríamos levar tudo o que precisássemos numa mochila. Escolhi uma com uma capacidade de 20litros com as costas e alças almofadadas por causa do conforto. Nesta mochila levei coube tudo para uma semana de pedal. Claro que não houve espaço para colocar a esteira, levamos apenas o saco cama porque pensavamos nós que iriamos encontrar albergues pelo caminho...Os albergues encontramos, mas estavam todos lotados e como a prioridade era sempre dada a quem caminhava, nunca encontramos lugar. Além do mais quem caminha prefere começar o dia de madrugada e parar ao inicio da tarde. Chegam até a fazer filas à porta do Albergue. Na ultima noite antes de chegarmos a Santiago dormimos sobre a pedra, estava tudo lotado e a solução foi por toda a gente a dormir no pavilhão desportivo da cidade.
Voltando à viagem até França...Para quem nunca tinha sáido de Portugal, ir para França seria um grande ''empreendimento''. Estudamos as várias opções e decidi-mo-nos pelo comboio e que comboio. O Sud Express liga Lisboa a Paris, sendo que a parte entre Portugal e a Fronteira com França é feita num velho comboio sem condições...os passageiros dividem camaratas de 8 lugares!
Parecia que tínhamos entrado noutro planeta quando começamos a pedalar em França. Sim porque desde a fronteira até St. Jean Pied du Port são cerca de 70km e que decidmos fazer a pedalar. É uma estrada que inicialmente assusta porque só se avista montanhas, mas ficasse-se por aí. A estrada é plana pelo meio das montanhas...ufa!
Assim que chegamos a St Jean procuramos a ''Oficina do Peregrino'' para carimbar a credencial e no mesmo dia começamos a subir os Pirenéus. Uma longa subida quase sempre em alcatrão e com uma inclinação acentuada. Atravessar esta cordilheira é sem duvida regoziante para o comum BTTista. Dá que fazer, mas quando a deixamos para trás sentimo-nos um ciclista mais completo. Claro que acabamos o dia à noite em Roncesvalles!
De seguida atravessamos o País Basco por Pampelona e Logroño. Aqui os trilhos mudam completamente e a temperatura também. Na altura que lá passamos chegamos a pedalar com temperaturas acima dos 45º! As plantações de oliveiras preenchem o caminho na região de La Rioja.
Entre Burgos e Leon não se passa grande coisa em termo de trilhos, mas vento houve com fartura e logo contra! Durante umas dezenas largas de Kms os estradões largos pelos meio dos campos de cultivo, intercalados com caminhos paralelos à estrada principal são o prato principal. Esta parte acaba por ser a mais ''chata''...
Chata mas sem nunca perder o interesse porque existem muitos monumentos, igrejas pequenas e grandes catedrais por todo o percurso. Recordo-me de duas em particular, Burgos e Leon...
Um grande atractivo deste caminho é também a mitica fonte do vinho! Trata-se de um local onde os peregrino podem beber vinho gratuitamente. Apela-se ao civismo no local por isso pede-se que não encham bidons, garrafas, reservatorios com o vinho.
Os Caminhos de Santiago são uma excelente forma de conhecer outros povos. Encontramos ao longo do caminho dezenas de peregrinos oriundos dos quatro cantos do mundo. Nos albergues convive-se com gente que está em viagem há meses que contam historias inacreditáveis e que nos cativam.. encontramos um peregrino que vinha da Europa de Leste a pé!!
Astorga, uma cidade histórica e estratégica nos Caminhos de Santiago marca a mudança dos trilhos. Aqui começamos a entrar em caminhas mais apertados e a própria paisagem também muda. Começamos a aproximar-nos da Cantabria. Em Astorga cruzam-se dois Caminhos de Santiago: Via da Prata e Francês.
A subida do Monte Cebreiro é um dos pontos mais marcantes no Caminho Francês. Uma longa subida em trilho que testa as capacidades de qualquer peregrino, vá ele a pé ou de bicicleta. Apesar de ser em Agosto, no fico do Verão estava bastante frio, chuva e vento. Do pouco tempo que paramos no topo do monte, deu para arrefecer e depois congelar na descida. Uma longa descida alucinante em trilho técnico que nos congelou o corpo. No final da descida paramos para comer alguma coisa e de tanto tremer, nem precisávamos de mastigar.
Com o aproximar de Santiago de Compostela, o caminho fica cada mais ocupado com peregrinos seja a pé, a cavalo, com carroça ou de bike. É impressionante a quantidade de pessoas que percorre os trilhos em peregrinação ou não. Talvez por isso que os caminhos de Santiago são considerados património da humanidade pela UNESCO.
No Monte do Gozo conseguimos avistar Santiago pela primeira vez, daí este nome. Estamos perto de concluir mais uma aventura...A chegada a Santiago é sempre mágica e mística, aqui pensamos em todo o caminho, naquilo que passamos, nos momentos que vivemos...
Chegamos a Santiago 8 dias depois de termos partido de St. Jean Pied du Porto e com quase 900km nas pernas. Claro que para regressar Portugal continuamos a pedalar, parte em estrada e parte pelo Caminho Português. Quando paramos no albergue em Redondela e dissemos de onde vínhamos, ficaram chocados! Era domingo quando chegamos ao Porto, por isso acordamos cedo em direcção à Amarante e encerramos a aventura com um passeio na terra natal com o grupo Tâmega.
Buen camiño!
