quarta-feira, outubro 02, 2013

Grande Trail Serra d’Arga

Há umas semanas atrás estava entusiasmado com a ideia de me preparar dedicadamente para o Grande Trail Serra d’Arga (GTSA). Isto antes do Mongolia Bike Challenge (MBC) entrar no caminho e com isso a travessia do Gobi. No final do Tour du Mont Blanc fixei um objectivo de fazer 4.45h no GTSA e por isso mesmo indo à Mongólia, teria de treinar para este objectivo. 

Aos poucos a corrida foi-se desvanecendo da minha rotina diária devido aos intensos treinos na bicicleta e depois entrar no avião rumo à Ásia tornou-se ainda mais complicado correr. ‘’Lá longe’’ fiz ao todo 3 treinos de corrida, muito pouco. Assim que voltei a Portugal o meu corpo pedia descanso, pedia sossego, mas eu queria correr o GTSA. Com o organismo ainda todo trocado fiz alguns treinos curtos para diminuir a intensidade da ‘’marretada’’ que se estava aproximar a passos largos. 

O GTSA acontece em Dem, (Dem, não Dém para que se conste) uma pequena aldeia minhota no sopé da Serra d'Arga (SA) . Há cerca de um mês e meio fiz aqui o meu ultimo treino a sério de trail. Não conhecia a SA, fiquei a conhecer a dureza desta serra a nível de piso e de subidas. O Carlos tem um bom quintal para treinar, disso não há duvidas...
O outono chegou e com ele a chuva. Se o GTSA era duro em tempo seco, com chuva e vento a dureza aumentou consideravelmente. Na minha mente ainda alimentava o objectivo que me tinha proposto, 4.45h quando terminei o Tour du Mont Blanc, mas será que as minhas pernas iriam colaborar? Vamos a ver…

Assim que arrancamos tentei posicionar-me num grupo o mais à frente possivel. Conhecia o percurso, sabia que não podia abusar muito no inicio porque senão iria pagar a factura na segunda metade da prova. Senti o meu corpo a reclamar do tipo, ''que é isto?, estás louco? fazes 1 900km de bicicleta e agora queres correr a este ritmo?'' dei-lhe razão e abrandei. Depois veio a dor de burro e algumas cólicas, tinha mesmo de abrandar. Pensei que até era bom porque assim estava a poupar-me para a segunda metade da prova. 

Nas descidas perdia posições, nas subidas recuperava. Tinha receio de escorregar nas pedras então ia mais devagar. Ainda para mais depois de ver algumas quedas assustadoras...vi atletas a desaparecer nas poças de água que havia nos trilhos! Com o temporal que estava, a ''navegação'' nos trilhos tornou-se algo complicada. O percurso em alguns pontos suscitava duvidas porque o vento tombou as bandeiras e o nevoeiro dificultava a visualização das fitas. 

Uma das principais subidas da prova era da Aldeia do Cerquido para a Sra do Minho. Grande parte feita em calçada íngreme e quando lá passei fui ''abençoado'' com uma tamanha carga de chuva e vento que só mesmo com a ajuda divina eu consegui chegar à igreja.
Fiz tudo para andar o menos possivel a pé, quando não podia correr ia a trote e só mesmo em locais
muito inclinados ou quando havia muito ''tráfego'' no trilho é que caminhava. Esta subida do Cerquido era interminável, mas como consegui correr, recuperei bastantes lugares. No final da subida disseram-me que estava no TOP15. 

Continuei no meu ritmo, não me preocupando muito com a posição, mas sim em terminar a prova. Na corrida a qualquer momento o ''homem da marrreta'' pode-te atacar e deixa-te pregado. 
Quando já pensava na chegada a Dem, eu e outro atleta entramos no percurso da Caminhada. Descemos uma longa calçada até que alguém da organização nos disse que a nossa prova não era por ali. Não queria acreditar que tínhamos de fazer a subida novamente...desanimei e por coincidência o meu organismo obrigou-me a uma ''paragem''. 

Depois de regressarmos ao trilho, durante umas boas centenas de metros não encontramos nem fitas nem bandeiras e não havia atletas. Parei várias vezes para confirmar se estava no trilho certo, apenas me limitei a ir em frente até que finalmente vi uma bandeira e um pouco mais à frente encontrei um elemento da organização. Alertei-o para a situação e desci até Dem ''tranquilamente''... 

Finalizei o GTSA em 5.24h, não consegui fazer os 4.45h, mas estava feliz por ter terminado mais um desafio com 45Km e 5 000m de acumulado. Como alguém muito bem diz, é precisa muita resiliência no Trail Run, e este dia foi bem prova disso. A prova fica selada com um abraço do Carlos Sá. O que se passa na montanha, fica na montanha e agora à que pensar na próxima.

Depois do banho e do almoço, fui para a meta aplaudir os últimos atletas a chegar. Dou muito valor estes ''guerreiros'' que passam horas e horas a na montanha a sofrer. O ultimo atleta chegou com mais de 11h de prova!

Organizar eventos é sempre uma tarefa muito exigente e o GTSA não é excepção. Há que reconhecer o trabalho efectuado pelo Carlos, pela Desnível Positivo, por todos os voluntários e por toda a restante equipa da organização que certamente tudo fez para que a prova fosse um sucesso.

O jantar no já mítico restaurante ''Caracóis'' em Vila Praia de Ancora convivendo com o staff da prova foi a melhor maneira de fechar o dia...e com licor de mel!

Algumas notas:

Pela primeira vez corri de mochila, (obrigado André!) e nela levava comida suficiente para fazer a prova toda. Apenas parei no abastecimento na Sra. do Minho para abastecer com água, isto ao km 28. Durante os 45km apenas comi um gel e duas ''saquinhas'' de mel, o meu corpo não pediu mais...

A Serra d'Arga também foi fortemente castigada pelos incêndios. Conheci a serra quando ainda verde, vê-la assim deixou-me triste...é revoltante assistir ano após ano ao delapidar da nossa floresta e pouco ou nada se faz...

Depois do MIUT, voltei a correr com o amigo e treinador Tiago Aragão. Está uma máquina!

Já tenho um 'pontinho' para o UTMB...hummm...está aberta a ''época de caça'' aos pontos!

Obrigado ao Sampaio e ao Panda pela casa e boa disposição respectivamente! 

Fotos retiradas da internet. Obrigado aos fotografos pela partilha.

Mais fotos na minha página de atleta no Facebook: https://www.facebook.com/marinhojoao










4 comentários :

João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict