Rally di Romagna Dia 3

A chuva dos últimos dias infelizmente tornou os trilhos intransitáveis. Ontem a organização decidiu alterar a etapa, cortando a parte inicial o que tornou a etapa significativamente mais curta. Na hora da partida estava com uma grande duvida se levada ou não o impermeável, decidi arriscar em não levar, apesar de quase toda a gente levar e a chuva estar a ameaçar. Como era uma etapa com cerca de 30km, mesmo que chovesse o ‘’sofrimento’’ seria durante pouco tempo.

A etapa

Com uma partida neutralizada, andamos 10km a ritmo controlado numa estada nacional. Mesmo com motos, policia e carros da organização a velocidade rondava os 50km\h! O pelotão claro que começou a alongar quando começou a subir, ainda em velocidade supostamente controlada, começaram os ataques! Estava na duvida se já contava ou não, então segui com o grupo da frente, até que chegamos a um ponto onde estava a organização a mandar toda a gente parar para agrupar. Isto com quase 10km, digamos que foi um bom aquecimento!

Esta era a 2ª etapa, a classificação está mais que ordenada, mas a organização continuava a chamar os atletas para a grelha de partida por ordem de inscrição o que não faz qualquer sentido. O meu frontal tem o nº 60, queria dizer que tinha que partir com um grande grupo à minha frente. Calmamente expliquei como se faz noutras provas semelhantes, a organização acatou, agora vamos a ver se amanhã isso se reflecte.

Pensava eu que a partida seria a um ritmo mais controlado e depois progressivamente iriamos aumentar o ritmo em função das pernas de cada um. Nada disso, começaram logo os ataques desde o primeiro metro! Os trilhos todos enlameados, toda a gente procura a melhor trajectória e claro está que há algumas saídas de pista como foi o caso do Tiago Silva, felizmente sem consequências!

A organização disse que a parte inicial seria ‘’smoth’’ (suave) sem grandes subidas…mas apanhamos logo uma parede que colocou toda a gente a pé. Assim que montamos continuamos a escalada durante alguns kms… como a etapa foi programada de um dia para o outro, não há mapa de altimetria, logo não sabia quando acabava e o resultado é que a gestão do esforço não existe. O austríaco que ontem atacou, hoje fez o mesmo, creio que está em 3º na classificação geral e queria recuperar terreno para o 2º, o Fabrizio que venceu em 2011.

Ganhou alguma distância no início, mas estava sempre no meu alcance visual. Bastou descer um pouco num single-track técnico que colei logo na roda dele. O Italiano tinha ficado para trás o que era bom para o austríaco que seguia comigo, como para mim que era o meu mais directo adversário. Colaborarmos durante alguns kms, puxando à vez (ora puxava eu, ora puxava eu), fazendo tudo para nos distanciarmos.

Os poucos single-tracks que fizemos estavam completamente inundados, poças de água que metendo lá bicicleta, estava ficava meia submersa! O autriaco inclusivamente caiu numa destas poças, apenas o ouvi a gritar de sofrimento e a queixar-se do percoço. Parei, perguntei se precisava de ajuda, disse que não e levantou-se. Daí para frente nunca mais manteve o ritmo e comecei a ganhar distância. Acreditava que o Carlitos e o Tiago que viriam atrás conseguissem imprimir um ritmo que lhes permitisse subir na classificação, portanto eles também precisavam da minha ajuda e a minha ajuda seria distanciar-me do austríaco. As pernas diziam que sim, os trilhos técnicos ajudavam e então imprimi o meu ritmo.

O sol decidiu aparecer a meio da etapa e tudo se tornou mais alegre. As vistas arrebatadoras do topo da montanha, com o sol a brilhar por entre a floresta densa, fez com que o resto da etapa passa-se rápido.

Os últimos 8km foram feitos sempre acima dos 40km\h primeiro em estradão com gravilha, depois em alcatrão. A meta instalada em Tredosio apareceu num ápice. Foram cerca de 36km feito em menos de 2h, nada mau para o tipo de trilhos que encontramos. O mais importante é que aumentei distância para o segundo classificado. Nestas provas por etapas, todo o tempo que conseguirmos ‘’amealhar’’ é bom porque estamos sempre sujeitos a algum azar. Ontem por exemplo perdi quase 30min num engano…

O Tiago e o Carlitos

O Tiago Silva chegou pouco depois em 3º voltando aos lugares que no mínimo pode e deve ocupar. O Carlito chegou dentro dos dez primeiros, mantendo então uma boa classificação geral. Pouco depois de passar o pórtico de meta, distraiu-se, teve uma queda provada por um cabo eléctrico que estava no chão e que fez a roda da frente deslizar. Colocou toda a gente preocupada porque foi uma queda desamparada na pedra. Felizmente não teve consequências, mas deu bem para o susto!

As bicicletas

Com este tipo de tempo, as bicicletas sofrem imenso. A transmissão aumenta o desgaste exponencialmente, as pastilhas dos travões simplesmente desaparecem, os cabos das mudanças deixam de funcionar…no final da etapa passamos umas boas horas de volta das bicicletas seja a trocar pastilhas, trocar cabos, lubrificar rolamentos, tirar a lama entranhada…isto torna-se mais cansativo que a própria etapa, mas é obrigatório para garantirmos que no dia seguinte a probabilidade de acontecer alguma coisa seja reduzida. Felizmente que a minha Rocky está a portar-se à altura. Tudo a funcionar na perfeição, desde a transmissão SNV, os punhos ESIgrips, películas 4&2Impact, pneus Maxxis e sapatilhas Shimano. A nutrição Sponser nem preciso de comentar e claro que parte da performance está explicada. Outra boa parte atribuo ao Tiago Aragão, o treinador e amigo que me planificou o treino para estar na máxima força nesta prova.

A roupa

Nem falo da roupa que leva um tratamento que a torna irreconhecível. Não há roupa limpa e seca para todas as etapas, logo temos que passar uma boa parte da tarde a esfregar roupa que nem umas lavadeiras. Temos que fazer por fases que isto cansa mesmo e o resultado não é nada famoso!

A organização

O preço da inscrição para uma prova de 7 dias com alojamento e alimentação são 500€ por isso não se pode exigir muitas condições. Quem participa neste tipo de provas e está habituado a várias comodidades, mas aqui podem esquecer. O alojamento então é tipo albergue dos Caminhos de Santiago. São albergues com tudo ao molho em fé em deus. Felizmente que existe uma grande entreajuda e companheirismo entre o grupo de portugueses. Levamos tudo numa boa, brincamos com a situação e divertimo-nos à grande seja qual for a situação. Os trilhos e as paisagens compensam o resto!

O grupo de tugas continua todo em prova, excepto o Nuno Luz que decidiu não arriscar nestes trilhos técnicos, apesar de continuar a fazer kms mas em estrada.

Etapa 4 – Tredozio - Palazzuolo sul Senio

A etapa de amanhã ainda é uma incógnita porque enquanto eu escrevo isto, está o maior temporal lá fora. Os 70km com 3 800m D+ anunciados entre Tredozio e Palazzuolo sul Senio metem respeito. As motas da organização estão neste momento a fazer o percurso e mais logo no briefing saberemos se fazemos ou não na íntegra a etapa.

Obrigado pelo apoio que nos tem chegado. Todos os portugueses agradecem, sejam os amigos ou familiares. Faço questão de escrever o relato diário para vocês!

Eu em especial quero agradecer a uma brasileira que está torcendo tanto que eu até sinto deste lado do oceano!

Love the Ride!