domingo, fevereiro 09, 2014

Alpinismo - Peña Ubiña

Há uns tempos atrás quando via uma montanha apenas imagina ''conquista-la'' de bicicleta. Agora com a nova paixão pelo Trail vejo que a posso conquistar sem pedais. Posso ir a correr e a caminhar. Mas se quiser chegar aos locais mais altos onde há paredes e neve? Bom, estava na hora de aprender alpinismo.

A formação promovida pela Espaços Naturais encaixava no calendário e nem hesitei em aproveitar esta oportunidade. Para mim não era bem uma novidade uma vez que há um ano atrás no Chile fiz uma subida ao Vulcão Villarrica em modo alpinista. Mas foi tudo muito rápido e sem grande aquisição de conhecimento técnico. Depois veio a subida ao Aiguille du Tour no Mont Blanc. Ali percebi que tinha\queria mais conhecimento sobre como alcançar um cume com recurso a crampons, piolets, cordas, etc. 



Dia 1 - Formação no Porto

Voltando à formação, primeiro houve uma aula teórica no Porto, onde tivemos o ''primeiro'' contacto com o equipamento e com os restantes elementos do grupo. O nosso destino era a Cordilheira Cantábrica, mais concretamente a Montanha Peña Ubiña na província das Astúrias com os seus ''modestos'' 2 417m. Estávamos todos empolgados para começar a aventura. 


Dia 2 - Aprendizagem de técnicas básicas

A viagem de carro do Porto para as Astúrias foi longa. Já não me lembrava da ultima vez que tinha passado 5h dentro de um carro. Saímos cedo, vimos o nascer do sol já perto de Espanha. A conversa manteve-se durante grande parte da viagem. Apenas adormeci durante uns breve minutos...acho eu. 

Quando chegamos à Aldeia de Tuiza a neve já era bem visível. Colocamos tudo na mochila e começamos a subida para o Refugio de Meicín. À medida que ganhávamos altitude a camada de neve engrossava. Em pouco tempo já nos estávamos a afundar no manto de neve. O cenário era deslumbrante. As camurças apareceram para dizer olá. São uma espécie de cabras de montanha andam livremente pela serra. 

Chegamos ao refugio onde comemos alguma coisa, descarregamos parte do material e fomos para a aula prática em plena montanha. A primeira coisa foi em saber como colocar os pés enquanto se progride\vence os desníveis Depois vieram as inúmeras técnicas de self arrest utilizando o piolet. Depressa percebemos que estávamos perante um profissional. O Pedro Guedes, fundador da Espaços Naturais além de um excelente formador, tem uma experiência invejável de montanha em diversas partes do mundo. Estávamos bem entregues portanto. Algo que percebi logo era que as minhas botas não eram as ideais para esta actividade. Ai que frio eu ''rapei''...

Regressamos ao refugio ainda de dia. Como tinha trazido o equipamento de trail estava muito tentando em  realizar um treino. O incentivo em jeito de picanço do Pedro foi o empurrão que faltava para me lançar à serra. A Ester também alinhou na ''brincadeira''. A neve dificultava muito a progressão. Era de tal forma fofa que me chegava a afundar até ao peito! Tentava encontrar um percurso com menos neve para assim correr verdadeiramente. Chegamos a um cume. Olhei para o relógio e em apenas 2km fizemos 700m de desnível positivo! Regressamos ao refugio já com pouca luz, com 1h de treino bem aviado e muito divertido.

Neste refugio a electricidade é proveniente de bateria, por isso tudo é controlado rigorosamente. Desde as luzes, à água quente, aos aquecedores. O refugio está isolado na montanha, o acesso é unicamente a pé! 
Por volta das 20.00h é servido o jantar. Dadas as condições a massa com molho de tomate estava ''no ponto''. O Pedro partilhava as inúmeras e divertidas histórias vividas em estágios semelhantes e em expedições pelas montanhas por esse mundo. Algumas delas eram de tal forma hilariantes que de tanto me rir até chorei. Antes de nos deitarmos houve uma aula de nós onde aprendemos os nós básicos de alpinismo.
Ás 21.30h estávamos todos nos beliches prontos a dormir. A tempestade lá fora assustava...sabia mesmo bem estar ali no quentinho a ouvir o vento e a chuva a cair intensamente. 

 





Dia 3 - Alpinismo com recurso a cranpons e cordas

Já tinha esgotado o stock de meias. Estavam todas molhadas. Ainda usei a sempre falível técnica dos sacos plástico, mas claro que não tive sucesso. Bom, não era tempo para lamurias. 
O que no dia anterior não estava branco, a neve que caiu durante a noite tratou de cobrir o resto da montanha. Pouco tempo depois de sairmos do refugio, a neve começa a cair. Estavamos reunidas as verdadeiras condições de alpinismo. 

A Peña Ubiña la Pequeña foi onde colocamos em pratica os conhecimentos transmitidos. Encordados e com os cranpons nas botas começamos a progredir na aresta da montanha. A neve caía incessantemente e juntamente com o vento a adrenalina e dificuldade aumentava. Lentamente ganhávamos altitude, mas o alpinismo é assim mesmo. As minhas botas começaram a embirrar com os cranpons e insistiam em sair. A pendente com mais de 45º associada ao vento criaram-me uma verdadeira dor de cabeça. Com a ajuda do meu companheiro de corda, o Henrique, lá consegui resolver a situação. 

Quando alcançamos o cume o céu abriu e permitiu-nos uma magnifica vista para o resto da cordilheira e vales em nosso redor. Neste local estava instalada uma trincheira usada na Guerra Civil Espanhola. Pobres coitados aqueles que aqui combatiam no inverno...
Lá no cume houve uma paragem para reconfortar o estômago, paragem essa que foi demasiado prolongada para o gosto dos meus pés que começaram a congelar. Eu que tolero bastante o frio cheguei a um ponto que estava mesmo a sofrer. Ansiava por começar a descida. Pouco depois os pés começaram a aquecer e tudo voltou a ser ''bonito''. 

Quando já pensávamos que íamos directos para o refugio, o Pedro decide parar para nos ensinar mais técnicas. Desta vez self arrest mas encordados e utilização de estacas com nós fixos e dinâmicos. Foi mais uma aula prática bastante divertida uma vez que envolvia quedas e deslizamentos na neve.

Chegamos ao refugio já no final da tarde e sem a mínima vontade de cumprir o treino de trail run. As tarefas de rotina tais como arrumar o material, mudar de roupa, colocar a roupa a secar ocupou o tempo até o jantar. 

Novamente às 20h os simpáticos espanhóis que exploram o refugio serviam mais um delicioso jantar. Desta vez foi servido puré com nacos de carne. Mas também havia prato vegetariano uma vez que 3 pessoas eram vegetarianos. 

Depois de 8h na montanha a cama do beliche foi ainda mais confortável que no dia anterior...








Dia 4 - Subida ao cume da Penã Ubiña

Depois de termos aprendido as técnicas necessárias, podíamos tentar a ascensão ao cume. Primeiro um trekking até à base da montanha que nos levou 2.30h para fazer 2.5km. Ficamos encordados e começamos o ataque ao cume. A neve estava muito fofa e a progressão era muito complicada. A inclinação também era cada vez mais acentuada. Houve pontos com 60º de inclinação! 
Caminhávamos na aresta da montanha. A ''vista'' para cada lado era no mínimo ''de respeito''. A progressão era lenta mas continuamos todos em grupo. 
Chegamos a um ponto onde o risco de avalanche agravou-se e o Pedro optou (e muito bem) por não arriscar. No alpinismo temos de ter o discernimento de não querer chegar ao cume a todo o custo. Esse custo pode ''custar-nos'' a vida!
Segundo as contas do Pedro o cume ainda estava a 2.30h a 3h e naquelas condições estaríamos a arriscar a vida. Descemos, regressamos ao sopé e seguimos para uma montanha mais pequena para treinarmos técnicas de alpinismo.

Quando estamos na montanha temos de estar sempre atentos. Enquanto um dos companheiros estava a escalar a montanha, desequilibrou-se e caiu. Estava seguro pelas cordas, mas a queda acabou por deslocar uma pedra de dimensões consideráveis que veio montanha a baixo. Felizmente que tanto o Fred como a Ester tiveram sangue frio para se desviarem. Se lhes acertava ia provocar ''estragos''. 

A actividade estava praticamente no fim. Regressamos ao refugio, arrumamos as coisas, despedimo-nos dos espanhóis e fizemos o trekking de regresso à aldeia de Tuiza. Foi um alivio ver-me livre das botas assim que cheguei ao carro! Antes de iniciarmos a viagem de regresso a Portugal abastecemos com uma típica tortilha. 
A viagem de regresso foi altamente animada com diversos temas. A viagem parece que demorou menos tempo. Chegamos ao Porto já passava da meia noite. Era tempo de regressar a casa e pensar na próxima montanha.

Obrigado a todos os que participaram nesta actividade, Fred, Miro, Luís, Ana, Ester e Henrique. Parabéns ao Pedro por levar por diante o seu sonho e assim dar a oportunidade a muitos de ''privarem'' com a montanha em segurança e com conhecimentos técnicos. 

Venha a próxima!









1 comentário :

João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict