domingo, dezembro 09, 2012

Caminhada Minas dos Carris e Minas das Sombras - Serra do Gerês

Caminhar nesta altura do ano em que o Inverno rende o Outono é um acto verdadeiramente aprazível. Quando se junta um grupo de amigos que partilha a mesma paixão (e loucura, mais tarde percebem) e a nisto a Serra do Gerês com os os seus locais mais recônditos é o pano de fundo, o resultado do ''cocktail'' só poderia dar em mais uma aventura para mais tarde recordar...


Já algum tempo que gostava de alinhar numa destas famosas caminhadas que o amigo Francelino faz pelo Gerês. O grupo compôs-se com vários amigos, alguns deles que já não via há muito tempo. Foi muito bom reencontrar o Fernando, o Sousa, a Sidi, ou o Paulo, claro que é sempre agradável estar na companhia do Domingos, da Isabel e do Zé Castro. O Jorge não conhecia, mas foi também uma boa companhia. Era um grupo de 10 elementos e uma cadela, a Estrela!


A caminhada iniciou-se em Lobios, Espanha portanto. Houve um pequeno ''desvio'' na hora da partida mas pensei eu que fosse recuperável. A mim custava-me acreditar que para se fazer cerca de 30km demorasse mais de 8h!! O termómetro marcava 1º quando arrancamos, mas o céu limpo prometia que a temperatura aquecesse à medida que a altitude subisse. Fomos em direcção à Portela do Homem, fronteira entre Espanha e Portugal, fotografando, conversando, brincando...o ambiente foi sempre muito bom. 




A passagem de Espanha para Portugal é marcada pelo frondoso e centenário carvalhal. A ponte sobre o Rio Homem marca a entrada no Trilho das Minas dos Carris. Durante cerca de 10km percorremos um caminho escorregadio, em que a calçada de outrora deu lugar a um empedrado com uma inclinação constante. Seguimos paralelos ao Rio Homem onde podemos apreciar várias cascatas e a incrível transparência da gelada água. Dos dois lados do caminho tínhamos imponentes maciços rochosos que nos fazia sentir muito pequenos face à magnitude da natureza.  


Eu era o elemento com menos frequência neste tipo de actividade. Ouvia historias dos companheiros de grupo que contavam sobre as vezes que tinham ali passado com o cenário coberto de neve, com os ribeiros congelados, com temperaturas muito abaixo de zero...se por um lado estava a gostar do clima do dia, por outro alimentava a esperança de encontrar neve.

A felicidade da Estrela era contagiante. Ela corria para a frente e para trás, enfiava-se em todas as poças de água, brincava com o dono e estava sempre pronta para receber um mimo nosso. Foi assim o caminho todo! 


As horas iam passando, o dia também...eu fazia contas pois tinha esperança de chegar a tempo a um jantar em Amarante. Apesar do trilho ser claro, houve algumas derivações...algumas bem sucedidas outras nem tanto, enfim, algo que muito honestamente já não estivesse à espera face aos suspeitos envolvidos...


Aos 1 300m de altitude e quase 4h de caminhava atingimos o planalto onde nasce o Rio Homem e podemos avistar ao longe o que resta das infraestruturas das Minhas dos Carris. Ao longe as Minas confundiam-se com a paisagem, as formações rochosas preenchiam o cenário. Dava para perceber que ali a Natureza impunha as regras, o cenário era simplesmente espectacular. Como foi possivel aqui trabalhar mais de três cenas de trabalhadores há meio século atrás? pensava eu. 



Com uma esplanada do tamanho do mundo almoçamos, partilhamos os alimentos uns dos outros. Nem café nem chã, ambos quentes, faltaram! Enquanto isso o Francelino dava aulas de geologia mostrando o que era Volfrâmio e Molibdénio, que eram os metais que se extraiam destas minas. Também nos explicou como era o processo e os passos da extracção. Uma verdadeira ''visita de estudo'' a fazer lembrar os tempos do liceu. As minas foram abandonadas há quase três décadas, estando completamente ao abandono. Estas minas começaram a ser exploradas durante a II Guerra Mundial com a principal finalidade de fornecer a máquina de guerra Nazi. Findada a guerra houve várias tentativas de as recuperar e reactivar, mas sempre sem sucesso. Podem saber mais sobre a história das minas aqui: http://carris-geres.blogspot.pt/


Aqui saciei o meu desejo, encontrei neve! Não era muita, mas era a possivel e deu para brincar um pouco entre os elementos do grupo. O espelho de água da Lagoa das Minas impressionava. O pôr do Sol refletia na água a paisagem envolvente...ficamos ali uns bons minutos a contemplar e a fotografar...
Sim falei em pôr do sol! Nós (ainda) estávamos a meio da caminhada! Aqui aproveitei o ínfimo sinal de rede para avisar as pessoas que já não iria chegar a tempo ao jantar onde quer que fosse. 


O Francelino puxava pelo o grupo e indicava o próximo destino, o pico da Nevosa. Este pico é ponto mais alto da Serra do Gerês e o segundo mais alto de Portugal continental, com os seus 1 548m de altitude. O caminho acabou nas minas, agora o trilho era seguindo as mariolas por entre a vegetação. As mariolas que são pequenos amontados de pedras, normalmente são feitos por pastores ou outros caminheiros que indicam a direcção do trilho. A linha de fronteira acompanhava-nos. Mesmo ali, naquele local remoto foi feito um muro de pedra e colocados diversos marcos de pedra assinalando a divisão.


Se até ali a componente de escalada ainda tinha sido diminuta, dali em diante a adrenalina subiu quando as paredes apareceram e tivemos de escalar. Estávamos completamente expostos, uma queda teria graves consequências mas felizmente para todos (cadela incluído) conseguimos chegar ao Pico.


A vista em nosso redor era indescritível. Dali conseguia ver serras tão distantes como Cabreira, Alvão, Marão, Montemurro, Barroso, Sanabria, e até a Sra. da Graça. É uma sensação de liberdade e de conquista enorme e só quem tem verdadeiramente uma paixão enorme por desafios consegue entender. As 6h (cinco horas) de caminhada justificavam-se plenamente. 



 A luz do sol estava a desaparecer, tínhamos de regressar. Metade por um trilho ''à escolha'' seguindo um azimute, outra metade por um trilho que passava por outras Minas, as Minas das Sombras, sendo estas já em Espanha. A falta de luz exigia atenção redobrada porque à mínima falha poderíamos ter uma queda e magoar-nos.Claro que ao fim de 25km nem as pernas, nem os reflexos são os mesmas.O importante era manter a coesão do grupo para ninguém ficar na serra. 


Caminhávamos com um céu completamente estrelado, em direcção ao ponto de partida. Os mais experientes traziam luzes e bastões, que não era o meu caso...O trilho paralelo ao rio Caldo traduziu-se numa brusca baixa de temperatura que obrigou toda a gente a vestir roupa e a ter cuidado para não enfiar os pés nas poças ou ribeiros. 

Ao fim de 9.16h e  35km chegamos ao ponto de partida. O relógio marcava 22h! 



Cumpri com a tradição que manda tomar um banho na piscina natural de água quente das termas do Rio Caldo...apesar de renitente, soube pela vida e aqueceu todo o corpo! Outra tradição é reconfortar o estômago no restaurante Cubano...calemares, polvo, lulas, bocadillos, Cerveja preta, Coca-Cola...tudo alimentos com elevadas propriedades de recuperação atlética!  


Resta-me agradecer o convite do Francelino, da companhia e camaradagem dos restantes elementos do grupo. Venha próxima, mas agora com (mais) NEVE! 


NOTA: Comentem por favor no blog e não no Facebook. Obrigado.

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5 comentários :

  1. F*did* (desculpa o termo) é, como te disse, ter tirado esta caminhada da agenda" por causa da minha falta de equipamento (calças e calçado) para a neve. Depois vejo estas vossos fotos e... ONDE ESTÁ A NEVE?

    Dar uma caminhada com o Francelino e chegar a tempo do jantar??? hehehehee
    Tens piada. Desde quando ele terminha uma caminhada antes do jantar pá? LOL

    BELAS FOTOS, BELA CAMINHADA

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    1. Nem imaginas o que perdeste...Frinxas! Paisagens e companhia do melhor! Mas haverá mais de certeza :) Espero que dessa vez com muito mais neve eheheh
      O Francelino disse que a única caminhada que acabou de dia começou à meia noite, LOL.
      Abraço

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  2. Excelente João, a reportagem e a qualidade das fotos. Sendo tu um todo o terreno e homem da radical aventura, foi bom poder acompanhar-te, nesta escalada e comprovar a tua polivalência e capacidade física e mental, também nesta especialidade, integrado num grupo cujos nomes já referiste, e que foram excelentes companheiros nesta caminhada. Merecem menção especial a Estrela e o Francelino!!!

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    1. Obrigado Sousa. É um orgulho poder partilhar estes momentos com uma pessoa com a sua experiência e doideira! Forte abraço para si e para a Estrela e até breve! :D

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  3. Não é necessario pagar uma licença para ir até as minas dos carris?

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João Marinho
Mountain biker, trail runner & adventure sports addict